Melingo ou uma odisseia fantástica “em busca das origens do tango”

De Linyera a Anda, Melingo leva ainda mais longe a sua viagem às origens do tango. No Misty Fest, na sexta-feira 4 de Novembro, no Tivoli BBVA, em Lisboa, às 21h30.

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Melingo juntou Serge Gainsbourg ou Erik Satie a grandes nomes da história do tango NORA LEZANO

É como num filme: uma mulher idosa e robusta com roupas de cigana procura alguém a quem adivinhar o futuro. Encontra Linyera (leia-se ‘lindjéra’, à argentina), lê-lhe a sina e a viagem começa. O novo disco de Melingo, Anda, que esta sexta-feira é apresentado ao vivo em Lisboa, no Tivoli BBVA (21h30, integrado no Misty Fest), dá continuidade à busca do disco anterior (Linyera), homenagem aos vagabundos, aos sonhadores, aos idealistas. “É um desenvolvimento do personagem desse disco, Linyera, que entra numa espécie de odisseia, de travessia, que é uma viagem em busca das origens do tango.” Fictício e teatral, Linyera é, ainda segundo Melingo, um “representante da migração porteña” e esta viagem musical é um claro reflexo disso. “Quis orientar o disco para aquelas que são, para mim, todas as influências que estão na génese do tango. Porque, não podemos esquecer isso, o tango é uma música com influência dos imigrantes e da grande diversidade cultural que se viveu em Buenos Aires no princípio do século XX.”

Se em Linyera se ouviam Lorca, Violeta Parra ou AtahualpaYupanqui, aqui Melingo juntou Serge Gainsbourg ou Erik Satie a grandes nomes da história do tango, como Osvaldo Pugliese (1905-1995), Edmundo Rivero (1911-1986), Terig Tucci (1897-1973) ou Roberto Ratti (1899-1981), ao qual foi buscar um tema popularíssimo, En un bosque de la China, aliando-lhe uma performance feérica digna de um filme de Kusturica.

“Pessoalmente”, diz Melingo, “guio-me por um conceito estético pessoal. Por isso encontro relações e pontes entre diferentes músicas. Há uma cadeia de influências entre a música de Satie e a música modal ou de tons orientais, como a música grega; por sua vez a música grega, a rebetika, na qual me inspirei para tratar instrumentalmente a composição de Satie, encontro-a relacionada com o fado, o tango, o flamenco, como com as últimas músicas de bas fonds, ou de uma consolidação marginal, se se quiser.”

Nascido em 22 de Outubro de 1957, em Buenos Aires, na Argentina, Daniel Melingo é frequentemente aclamado como uma das mais estimulantes vozes das metamorfoses do tango, lembrando Paolo Conte ou Tom Waits na forma teatral como aborda as palavras, à qual alia um olhar fílmico que lembra Fellini, em particular na dupla saga de Linyera.

Em Portugal estreou-se em Maio de 2009 com Maldito Tango, mantendo a partir dessa data apresentações regulares dos seus trabalhos. No concerto de Lisboa (actuou também em Leiria, no dia 3), ouvir-se-ão canções de Anda (como Espiral ou Sol tropical) e de discos anteriores. “O novo disco são quarenta minutos, e tocamo-lo na primeira parte. Depois, teremos uma segunda parte com canções mais antigas, dos últimos vinte anos.”

Com Melingo (voz e clarinete), estão Muhammad Habibi (guitarra eléctrica, bouzouki), Patricio Cotella (contrabaixo), Lalo Zanelli (piano) e Facundo Torres (bandonéon). O espectáculo, que foi recém-apresentado em Biarritz, Buenos Aires, Colónia e Londres, partirá depois para Paris, Zurique e Antuérpia. Em 2017 estará na Argentina, Austrália e Japão.

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