Gelado, azeite e biscoitos de algas

Já estão em teste os primeiros produtos alimentares com a microalga Clorella.

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Um dos pratos preparados pelo chef Vítor Sobral Fábio Augusto

A geladaria Santini entusiasmou-se com a ideia de usar microalgas e criou um gelado de Chlorella, naquela que foi a primeira parceria para o desenvolvimento de produtos da Allmicroalgae a concretizar-se.

No mercado, os produtos da empresa ligada à Secil aparecem com a marca Allma. E, para além do gelado, estão já a ser testados, “em fase de protótipo mas com grande potencial de comercialização”, azeite com Chlorella, com o Oliveira da Serra, da Sovena; bubble tea com a Frulact; e queijo fresco com a Queijaria Simões. “No caso do azeite, as algas dão um ténue aroma a mar que fica muito bem com saladas ou com peixe”, garante Sofia Hoffmann de Mendonça, responsável pelo desenvolvimento de negócio da empresa. Foram também testados uns crocantes de Chlorella que estão neste momento a ser “redesenhados”.

Também o chef Vítor Sobral, da Tasca da Esquina, tem colaborado com a Allmicroalgae e começou a experimentar a Chlorella em vários pratos – alguns dos quais foram apresentados no final da cerimónia de inauguração da Unidade de Produção de Microalgas de Pataias, na terça-feira.

Das duas espécies que a empresa utiliza, a mais indicada para consumo humano é a Chlorella vulgaris, que é, aliás, “o organismo vivo com maior concentração de clorofila”. É uma microalga com “mais de 50 % de proteína completa, o que significa que tem todos os aminoácidos essenciais e pode substituir a proteína de origem animal, o que a torna muito interessante para vegetarianos”, explica a responsável.

Por enquanto, foi desenvolvida a Chlorella em pó (que já está a ser exportada), em comprimidos e em cápsulas (para ser tomada como suplemento alimentar) e ainda em extracto aquoso e oleoso.

A outra espécie, a Nannochloropsis oceanica, “tem ómega-3, que o nosso organismo não sintetiza”. Mas, “por não ter ainda histórico de consumo humano significativo”, está a ser utilizada para rações para peixes de aquacultura, outra das áreas de negócio que a Allmicroalgae está a desenvolver.

É um produto que já está a ser exportado para vários países europeus, sendo a Alemanha e a França os maiores mercados e também os mais exigentes. “Valorizam muito a qualidade e a frescura e preferem a produção europeia relativamente aos produtos asiáticos, que representam 90% do que encontramos na Europa nesta área”, refere Sofia Mendonça.

A Allmicroalgae vê na alimentação de peixes um mercado com enorme potencial de crescimento porque, dizem os responsáveis da empresa, a tendência é para o aumento da utilização de ingredientes vegetais na aquacultura – e esta irá, inevitavelmente, crescer à medida que os stocks de peixe no mar se vão reduzindo. 

Biocombustíveis só no futuro

Quando as grandes indústrias poluidoras começaram a estudar alternativas para a fixação de CO2 e se interessaram pelas microalgas, a ideia era virem a produzir biocombustíveis a partir daquelas, explica Sofia Mendonça.

Mas há um obstáculo. “Para a produção de bio-óleos de microalgas, destinados a fazer biocombustíveis, é preciso ter volumes muito grandes, na ordem dos milhares de toneladas.” Houve então, no caso da Secil, uma adaptação de estratégia. “Percebemos que, no início de uma actividade como esta, temos que trabalhar com volumes de produção mais pequenos e vamos ganhando escala até podermos chegar aos biocombustíveis.”

A investigação em laboratório tem também grande importância porque permitirá identificar as espécies de algas mais adequadas – para bio-óleos o ideal será usar microalgas mais ricas em lípidos.

Para além dos biocombustíveis, há outras áreas interessantes como os bioplásticos e os bioquímicos. No final da apresentação que fez na inauguração da Unidade de Produção de Microalgas de Pataias, Sofia Mendonça usou um slide para mostrar o que, de acordo com a visão da empresa, pode ser o futuro. Na imagem vê-se uma casa, com um carro estacionado à porta, em que uma série de produtos – dos pneus do carro ao tapete, passando pelo champô, a manteiga e óleo de cozinha, a gasolina, a pintura das paredes ou o detergente – têm um componente comum: as microalgas.

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