“Portugal pode ter outra mina como a de Neves Corvo”

Rui Rodrigues, presidente da Empresa de Desenvolvimento Mineiro, acredita que há potencial no país, mesmo que a maiores profundidades.

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Presidente da EDM acredita que, para haver mais prospecção, é preciso mais informação DR

Não abre uma nova mina em Portugal há 34 anos. O que é preciso fazer para mudar isso?
Para mim parece simples. Temos de encher pela base a pirâmide de projectos. Neste momento, só temos três minas abertas, temos algumas que já se configuram como oportunidades identificadas, há dezenas de áreas que têm potencial e onde é preciso intensificar as actividades de prospecção e pesquisa. A resposta tem de ser apostar na actividade da informação. A informação é uma actividade do Estado, feita essencialmente pelo Laboratório Nacional de Energia e geologia (LNEG), que é quem faz a cartografia, mas é uma actividade que a EDM e as empresas privadas também podem fazer. Todo o trabalho de prospecção e pesquisa que é feito acaba por ser de conhecimento público. E ele é fundamental. Para além de ajudar a determinar o nosso potencial, ajuda também a ordenar e a preservar os recursos. A prospecção pode indicar que não há condições técnicas e económicas para exploração imediata, mas já ficamos a saber quais são as condições necessárias para que venham a ser exploradas.

Qual pode ser o papel da EDM no sector?
Queremos estar em toda a fileira, em todas as actividades do sector. Na actividade infra-estrutural, na actividade de prospecção e pesquisa, na avaliação de oportunidades. Admitindo que não estaremos no próximo tempo em actividades de exploração e que, entre 2017 e 2020, vamos continuar muito empenhados com a parte da requalificação ambiental das minas encerradas. Mas vamos apostar muito na fase de prospecção e pesquisa e propomo-nos mesmo a criar um portfólio de oportunidades para fornecer a investidores. Temos em Portugal muitas ocorrências, muitos projectos com informação muito diversa. Pretendemos fazer uma informação sistematizada sobre os projectos, uma espécie de memória técnica, com a densificação necessária para que quem se interesse por aquele projecto saiba exactamente o que já ali foi feito, o que se descobriu, o potencial que tem e os investimentos que ainda é necessário fazer. Para termos mais prospecção e pesquisa temos de ter mais informação e temos de arriscar alguma coisa.

Haverá mais minas em Portugal como a que foi descoberta em Neves Corvo?
Não digo que não haja. Aliás, tenho a convicção de que se forem feitos trabalhos a sério de prospecção, pesquisa, avaliação, há-de haver depósitos com características muito semelhantes a Neves Corvo. O potencial existe. Poderá estar a maiores profundidades, mas hoje em dia a profundidade não é um óbice. A tecnologia e a engenharia permitem que se faça furos sem grandes dificuldades. E também já não é difícil fazer galerias, os aspectos de segurança melhoraram bastante. E os aspectos ambientais também. As próprias minas de Neves Corvo, que quando abriram não tinham ainda um programa de encerramento associado, já o têm. Hoje em dia o encerramento de uma mina começa a ser trabalhado no exacto dia em que abre. A última avaliação do potencial dos recursos geológicos em Portugal aponta para os 136 mil milhões [quase o valor do PIB], mas eu considero que é uma estimativa conservadora. Esse valor é extrapolado a partir dos recursos que já são conhecidos. Não entraram outros elementos que ainda não são conhecidos. Quando desenvolvermos a prospecção e pesquisa e aprofundarmos o conhecimento, vamos com certeza encontrar valores superiores.

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