Quando umas escadas tornam o Palácio de Mafra proibido para muitos

A Associação Salvador vai apresentar esta sexta-feira uma acção de protesto contra as dificuldades que as pessoas com deficiência motora encontram na hora de visitarem o monumento.

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ANA LUISA SILVA

O Palácio Nacional de Mafra celebra este sábado, 22 de Outubro, o aniversário de D. João V, o rei que o mandou erguer, há 299 anos. Para celebrar a ocasião, mas também para apresentar um protesto, Salvador Mendes de Almeida, o fundador e presidente da Associação Salvador – que promove a integração de pessoas com deficiência motora na sociedade –, vai oferecer um bolo de aniversário ao director do Palácio. Porém, também vai oferecer um postal em que expressa o desejo de que a falta de acessibilidade para pessoas com deficiência motora ao monumento desapareça até ao próximo aniversário.

O encontro está marcado para esta sexta-feira, às 15h, mas Salvador Mendes de Almeida admite a hipótese de não chegar a entrar no edifício. “Infelizmente, não vou conseguir entrar porque o Palácio não tem acessibilidades”. E não está sozinho: “Milhares de pessoas com deficiência, portugueses e turistas estrangeiros, já tentaram entrar no Palácio, mas de facto este é totalmente inacessível a pessoas em cadeira de rodas, o que não é normal em pleno século XXI num país europeu.”

Ao PÚBLICO, Mário Pereira, director do Palácio, esclareceu que a entrada no mesmo “não levanta obstáculos porque está no piso térreo”. Reconheceu que são várias as tentativas de pessoas com deficiência motora de visitarem o monumento, mas clarificou que existe uma cadeira de rodas que permite o acesso individual aos vários pisos do palácio e da basílica. “Até agora, não foram precisas mais cadeiras porque normalmente, quando pessoas com mobilidade reduzida nos vêm visitar, vêm nas suas próprias cadeiras de rodas e é nelas que percorrem o monumento”. Porém, admite que é uma situação “que gera algum desconforto”. “Chama a atenção, claro, mas se vejo alguém com uma cadeira de rodas, a querer deslocar-se ou chegar a algum sítio, eu mesmo me proponho a ajudá-la. E os outros funcionários também ajudam sempre”.

Contudo, isto não é suficiente aos olhos da Associação Salvador. “Queremos que esta acção inspire este monumento e outros para que cumpram as leis e criem acessibilidade para todos, incluindo para pais com carrinhos de bebé ou idosos com mobilidade reduzida”, explicou Salvador Mendes de Almeida. “Não é possível esperarmos mais. As pessoas com deficiência não podem ser tratadas como portugueses de segunda, que têm que esperar à porta do palácio enquanto a família o visita”.

Em contrapartida, o director do Palácio explicou que já foi aberto um processo, junto da Direcção Geral do Património Cultural, para a alteração das condições de mobilidade no monumento. “Já pensamos nesta questão há muito tempo e temo-la como uma das nossas prioridades”. Contudo, é necessária a reconstrução de um elevador, que fica num dos saguões do palácio, e que permitirá que se façam alterações noutros pontos do edifício. Esse elevador foi o primeiro a ser construído em Portugal mas foi desmontado nos anos 40. Até agora, estava sob a tutela do quartel do Exército mas, ao ser passado para a responsabilidade do Palácio e do Ministério da Cultura, vai permitir o início das remodelações. “Esse saguão é importante porque é o único onde se consegue criar um elevador e ligar todos os pisos”, alertou Mário Pereira.

Mas o Palácio Nacional de Mafra não é o único que coloca entraves àqueles que se deslocam com dificuldade. “Faltam acessibilidades em muitos edifícios”, acusa o presidente da Associação Salvador. “Nem o Mosteiro dos Jerónimos nem o Padrão dos Descobrimentos, a Sé de Lisboa ou a Sé do Porto são acessíveis, e dezenas de milhares de restaurantes e estabelecimentos por todo o país também não, além de museus, tribunais e até centros de saúde!”. 

Texto editado por Ana Fernandes

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