Criticada pelas cicatrizes na Arrábida, a Secil contrapõe com empregos e riqueza

Impacto no emprego da fábrica é de 1689 trabalhadores em todo o país e 672 na Península de Setúbal. Um estudo agora divulgado diz ainda que foram recuperados 41 hectares de pedreira e reduzidas as emissões poluentes.

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MIGUEL MANSO

É uma fábrica mal-amada. As imensas cicatrizes que tem aberto na Serra da Arrábida há 110 anos não lhe granjeiam muitos elogios. Mas a Secil não veste esta pele de vilão e apresentou nesta quinta-feira um estudo que diz que o complexo fabril do Outão contribui muito para a região, concretamente para a geração de 672 empregos e 44 milhões de euros de riqueza anual na Peninsula de Setúbal. Em Portugal, o seu impacto chega aos 1689 empregos.

Na caracterização da unidade fabril, elaborada pela consultora KPMG, o ambiente - uma vez que se trata de uma área protegida - tem lugar de destaque. Aqui se argumenta que já foram recuperadas mais de 41 hectares de pedreiras e 600 mil plantas crescem agora à beira do Atlântico. Alem disso, tem havido um esforço de redução das emissões de gases poluentes: Desde 2009, o lançamento de dióxido de carbono para a atmosfera baixou 2%. Em relação a outros poluentes, houve uma queda de 59% na sua emissões e as partículas baixaram 21%.

Reagindo à ideia de que a Secil tem alterado a morfologia da serra, o administrador da empresa disse ao PÚBLICO que “mais de 40% da área de pedreira foi recuperada” e que a zona da Arrábida gerida pela empresa é das melhor preservadas. “Não há nenhuma outra parte da Serra melhor cuidada do que a que se encontra sob gestão da Secil”, disse Gonçalo Salazar Leite.  

O trabalho da KPMG analisou os diversos tipos de impactos da actividade da empresa na comunidade local e regional. Além do emprego que gera, e que atrai sobretudo trabalhadores de Setúbal (54%), Barreiro (18%) e Montijo (14%), há também um impacto social, patente no apoio que é dado às colectividades. Assim, em 2015, o grupo atribuiu 191 mil euros de donativos a cerca de uma centena de associações, clubes e instituições humanitárias. Desde que foi criado, este programa chegou já atingiu os sete dígitos e é descrito como um exemplo na área da responsabilidade social.

“Ao longo de 13 anos, a empresa doou mais de 2,5 milhões de euros ao movimento associativo e humanitário de Setúbal, dando assim forma a um dos mais robustos programas de responsabilidade social corporativa existentes em Portugal”, afirma o estudo da KPMG.

Gonçalo Salazar Leite, presidente da comissão executiva da empresa, diz que os resultados do estudo confirmam o que já se sabia há muito tempo: Que “a fábrica da Secil-Outão, presente no mesmo local desde o início do século passado, tem um importante impacto económico directo e indirecto, cria riqueza e emprego na região e contribui para a dinamização da economia local e nacional”.

“Esta fábrica é muito mais que uma unidade produtiva e de criação de valor”, defende o responsável, para quem a Secil é já uma “pedra basilar da economia regional”.

O presidente da empresa conclui que a laboração da unidade é compativel com o interesse ambiental da Serra da Arrábida, porque é possível estabelecer uma “relação equilibrada”. “É possível operar uma unidade fabril num ecossistema protegido de forma produtiva e sustentável e beneficiar ainda a comunidade envolvente”, defende Gonçalo Salazar Leite.

Vão ser feitos relatórios semelhantes para as outras fábricas do grupo - Maceira e Patais - e um último global.

Mais de um século a fazer cimento

A história da actual Secil-Outão começa em 1904, com a fundação da Fábrica de Cimento do Outão, em plena Serra da Arrábida. A produção arrancou em 1906, com a laboração de dois fornos verticais com capacidade de produção de 10 mil toneladas de cimento por ano.

Em 1925 nasce a marca Secil, que, cinco anos depois, em 1930, evolui para Secil – Companhia Geral de Cal e Cimento SA em resultado da fusão com a Companhia Geral de Cal e Cimento e da participação das firmas dinamarquesas F. L. Smidth & Co. E Hojgaard & Schultz A/S.

Uma fusão que, em 42 anos, transforma a unidade do Outão na maior fábrica de cimento de Portugal, com a instalação sucessiva de sete fornos mais modernos, por ‘via húmida’, que vão aumentando a capacidade de produção anual até um milhão de toneladas de clínquer.

Em 1975, a seguir ao 25 de Abril, a empresa foi nacionalizada e, em 1978, instala o primeiro forno de ‘via seca’ que reduz custos de operação e aumenta capacidade de produção.

A Semapa, de Pedro Queiroz Pereira, entra na empresa em 2003, como accionista principal, e intensifica a estratégia de internacionalização iniciada em 2000 com a entrada na Tunísia. A Secil chegou entretanto ao Líbano (2002), Angola (2004) e ao Brasil (2012), onde a fábrica que tem instalada em Adrianópolis é considerada a mais moderna do país. No total, a empresa tem agora oito fábricas a funcionar em quatro continentes e emprega mais de 2600 colaboradores a nível mundial (910 em Portugal).

Actualmente, o complexo fabril do Outão tem uma capacidade de produção anual de 2,2 milhões de toneladas de cimento.

No ano passado a fábrica vendeu 1,2 milhões de toneladas de cimento e 600 mil toneladas de clínquer, num volume de negócios de 95,4 milhões de euros. Quase dois terços da produção (68%), no valor de 65 milhões de euros por ano, são para exportação. 31% do volume de transporte associado à exportação passa pelo Porto de Setúbal, o que faz da Secil um dos principais operadores da comunidade portuária sadina.

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