O caminho das estrelas

Marte continuará a ser um cemitério de sondas, mas nem isso impede o sucesso continuado da exploração do planeta vizinho.

A extraordinária viagem da Schiaparelli, a sonda que chegou ontem a Marte, pode ter acabado ontem. Mas isso importa pouco: o sucesso da missão ExoMars está muito para lá do acidente na paisagem marciana, como ontem se temeu. Só falhamos quando não aprendemos nada – e se há uma garantia é que a equipa de engenheiros que passou esta noite a descodificar os dados tirou informações valiosas para as próximas missões. E são muitas: dos planos europeus até à utopia de Elon Musk, passando pelas afirmações nacionalistas chinesas e indianas, estão a ser abertos caminhos que vão colocar o ser humano em Marte.

A ciência que viaja em cada uma destas missões contribui e muito para que todos vivamos melhor. Quer o combate à osteoporose quer a invenção do aspirador nasceram de investigações feitas pela ciência aeroespacial. Mas, mais do que curiosidades, importa a ideia de humanidade que estamos a construir. Uma humanidade capaz de cooperar em torno de objectivos comuns como os que levaram à colocação da Exomars em Marte, é uma espécie mais coesa. Uma humanidade que é capaz de superar as tremendas fronteiras físicas que nos limitavam a este planeta, está mais preparada para continuar a evoluir. E não serão as críticas fáceis a limitar o brilho da missão de ontem.

Quando Fernão de Magalhães explorou o desconhecido Pacífico não havia redes sociais onde se expressava o “senso comum”, esse mínimo denominador comum das capacidades humanas. Hoje elas existem e são terreno fértil para um discurso populista que se resume na ideia de que há problemas mais urgentes para resolver do que a exploração espacial. Na verdade, não há. Porque sem a capacidade de superação humana que dá origem a estes feitos, não viveríamos hoje numa era globalizada que nos permite reduzir a pobreza, limitar o impacto das epidemias e aumentar a difusão de conhecimento pela babel digital.

Se há uma ameaça à evolução humana ela vem precisamente da pequenez que candidatos a líderes como Donald Trump querem impor – a sua lógica nacionalista deseja mais barreiras físicas e novas tarifas comerciais em vez de continuar a tornar o mundo mais pequeno. A humanidade que queremos é cosmopolita e aberta, não fechada e tacanha.

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