Bob Dylan nada diz sobre o Nobel. E nem atendeu a academia sueca

No concerto em Las Vegas, o músico pouco falou com os espectadores. Ainda não é certo que o músico esteja presente na cerimónia de entrega do prémio, a 10 de Dezembro.

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Imagem de arquivo de um concerto de Bob Dylan Reuters

Horas depois de a academia sueca lhe ter atribuído um surpreendente e polémico Nobel da Literatura, Bob Dylan subiu ao palco em Las Vegas para mais um concerto. A primeira aparição pública depois do prémio era aguardada com expectativa, mas sobre o Nobel houve zero comentários, conta o enviado a Las Vegas do jornal The Guardian.

No The Chelsea at The Cosmopolitan, em Las Vegas, Bob Dylan mal falou com a audiência, conta o Guardian. E perante o pedido repetido de mais canções, o músico norte-americano fez apenas um breve encore, cantando Why Try To Change Me Now de Frank Sinatra.

Nesta sexta-feira à noite, Dylan estará em Indio (Califórnia) para mais um concerto da sua Never Ending Tour [“Digressão Interminável”], iniciada em meados dos anos 1980.

O silêncio de Dylan imperou também para a Academia Sueca. Em declarações à AFP, o director administrativo, Odd Zschiedrich, contou que a Academia Sueca falou com o agente e responsável pela digressão do músico, mas não conseguiu ainda falar com o vencedor do Nobel, como faz com todos os distinguidos.

De acordo com Bob Neuwirth, músico e amigo do cantor,  no que diz respeito a prémios e distinções, o novo Nobel da Literatura é discreto e "pode nem mesmo agradecer", conta ao Washington Post.

Caso escolha não aceitar o prémio, Dylan não será o primeiro a fazê-lo. Em 1964, o filósofo francês Jean-Paul Sartre recusou o Nobel da Literatura, não recebendo, à época, as 273 mil coroas suecas de prémio. 

Dylan tornou-se na quinta-feira o primeiro norte-americano a ganhar o prémio desde Toni Morrison, em 1993. Mais relevante, porém, é o facto de, depois de vários anos em que o seu nome foi avançado como possível vencedor, a atribuição do Nobel a Dylan servir como legimitação literária da canção popular, de que o cantor de Blowing in the wind é um dos maiores representantes. Não por acaso, Sara Danius, Secretária Permanente da Academia Sueca, reconhecendo que a distinção de alguém cujo ofício é o das canções pode ser controverso, manifestou a esperança de a Academia não ser criticada pela escolha.

Tecnicamente, esta não é a primeira vez que um músico é distinguido com o Nobel da Literatura. Em 1913, o indiano Rabindranath Tagore recebeu a distinção. Tagore, que, curiosamente, morreu no ano do nascimento de Dylan, foi não só um escritor destacado na literatura indiana, enquanto romancista, poeta e dramaturgo, mas também um pintor de reconhecido mérito e um compositor que assinou mais de duas mil canções nos seus 80 anos de vida. Bob Dylan, porém, é o primeiro Nobel da Literatura cujo ofício se centra num campo exterior ao literário. Isso explicará não só a surpresa com que o anúncio do prémio foi recebido, mas também a polémica que se desencadeou entre os que defendem e os que questionam a justiça da distinção

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