Prémio Vaclav Havel dos Direitos Humanos para ex-escrava do Daesh

A yazidi Nadia Murad tinha 21 anos quando foi raptada. Hoje é activista e Embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas.

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Murad com o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault, na ONU AFP

Nadia Murad tem 23 anos e foi violada, torturada e vendida como escrava sexual pelo Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico) no Iraque. Esta segunda-feira recebeu o Prémio Vaclav Havel dos Direitos Humanos, atribuído pela quarta vez pelo Conselho da Europa.

A jovem yazidi foi raptada na sua aldeia, Kocho, perto da cidade de Sinjar, no Norte do Iraque, em Agosto de 2014. Na mesma altura, milhares de mulheres e meninas da comunidade yazidi (minoria religiosa concentrada no Iraque) foram igualmente capturadas, vendidas e compradas muitas vezes, como Murad. Ela sobreviveu; muitas morreram ou continuam cativas. Murad conseguiu fugir três meses depois do rapto e, como outras yazidis, foi acolhida na Alemanha, onde tenta reconstruir a sua vida.

Em Junho, a eurodeputada Ana Gomes trouxe a Lisboa o pediatra yazidi Mirza Dinnay, que vive entre o Curdistão iraquiano, onde estão refugiadas as jovens que conseguiram fugir, e a Alemanha, onde tenta tratar-lhes as feridas físicas e psicológicas. Acompanhou-a também Lamya Taha, de 18 anos e rosto desfigurado pela bomba que explodiu quando fugiu de dois anos de cativeiro às mãos do Daesh.

A parlamentar socialista portuguesa e o também eurodeputado Josef Weidenholzer, membros da Comissão das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos do Parlamento Europeu, estão a tentar trazer para Portugal 470 yazidis que desejam reinstalar-se no país e se encontram no Iraque ou na Grécia.

Murad foi candidata ao Nobel da Paz, atribuído a semana passada ao Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelos seus esforços de negociação de paz com os guerrilheiros das FARC. É desde Setembro a primeira Embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano.

“Não houve sequer uma tentativa para recolher provas” dos crimes contra a sua comunidade, disse Nurad na cerimónia de segunda-feira. “Ninguém está disponível para documentar isto”, acusou. “A vida foi injusta comigo”, disse ainda, antes de explicar que falar em conferências e encontros não a deixa feliz.

“Com a sua vida, a Nadia mostra como é importante lutar para ajudar as vítimas de tráfico”, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon quando a nomeou Embaixadora. “Estas pessoas merecem justiça. Quando lhes damos poder para isso, podem ajudar a transformar o mundo.”

O Prémio, atribuído em Estrasburgo, durante a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, no valor de 60 mil euros, homenageia o ex-Presidente checo e tem por objectivo honrar “acções extraordinárias da sociedade civil na defesa dos direitos humanos”. 

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