Um trunfo a valer por três

Olhando para a evolução dos números, é bom reconhecer que a equipa de António Costa e Mário Centeno vence ao intervalo.

Foi preciso esperar, mas ao fim de dez meses o Governo de António Costa viu chegar o dia: o Banco de Portugal liderado por Carlos Costa acredita, agora, que vai ser possível terminar o ano com as contas públicas a bater certo. Não será certo, certinho, mas pelo menos a condizer com o objectivo mínimo que nos foi traçado por Bruxelas: um défice de 2,5%.

Pode ter demorado, mas para o Governo não podia ter chegado em melhor altura. Com o próximo Orçamento ainda por fechar com Bloco e PCP, colocado entre a espada (as reivindicações da esquerda) e a parede (a exigência de Bruxelas), Costa consegue um inesperado apoio para uma negociação dura. E isto, sublinhe-se, sem contar com a receita que virá do ‘perdão fiscal’ que o Conselho de Ministros aprovou esta semana.

Olhando para a evolução dos números, é bom reconhecer que a equipa de António Costa e Mário Centeno vence ao intervalo. Depois de muitos meses de expectativas negativas sobre a execução do Orçamento, apesar do risco do exercício, chegou a Outubro com este crédito: à excepção do FMI, já nenhuma instituição nacional ou internacional desconfia que Portugal consiga sair este ano do Procedimento de Défices Excessivos. Sendo isto também uma condição essencial para que o país consiga alguma flexibilidade para o ano que se segue.

Mas este apoio do banco central dá outros dois trunfos ao primeiro-ministro. O primeiro é externo: ajuda a dissipar a ideia de que Portugal está em risco (maior ou mais pequeno) de um novo resgate — mensagem ainda esta semana um comissário europeu veio trazer a Lisboa; passa a mensagem de risco controlado à importantíssima DBRS, a agência de rating que tem o destino do país nas mãos, mas também ao BCE, que continua a dar ao país um balão de oxigénio, com o seu programa de compra de dívida activo. O segundo trunfo é interno - e muito político: deixa Passos Coelho mais isolado na ideia de que a estratégia da esquerda vai empurrar Portugal para essa nova crise. 

Dito isto, como explica António Costa sempre que aparece uma previsão negativa para o Governo, uma estimativa é apenas uma estimativa. Só no fim do ano veremos se as contas batem realmente certo — as do défice (nominal e estrutural) e as da dívida. E só aí poderemos ter a certeza que Costa ganhou um trunfo importante, mas não único, para para levar a geringonça a bom porto. O elemento que falta é, claro, a economia.

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