“Mas porquê?! Por que é que Portugal quereria deixar escapar esta colecção?”

O comissário da exposição, que se inaugura esta sexta-feira à tarde em Serralves com a presença do Presidente da República e dos chefes de Governo de Portugal, Espanha e Catalunha, confessou o seu espanto quando viu a colecção do BPN pronta a ser leiloada.

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Adriano Miranda / Público
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A poucas horas da formalíssima inauguração - com direito a dois chefes de Governo e um Presidente da República - de uma das mais mediáticas exposições alguma vez inauguradas em Portugal, numa Casa de Serralves onde o estaleiro da montagem de Joan Miró: Materialidade e Metamorfose ainda se cruzava, à saída, com os cabos das muitas televisões que chegavam, a directora artística do Museu de Serralves, Suzanne Cotter, não ignorou a dimensão política desta mostra “sobre a qual tanto se especulou”, reconhecendo a sua importância simbólica a diversos níveis, da questão da “herança artística” ao “papel da arte na sociedade”, mas deixou um aviso à navegação: ela “também é ‘apenas’ uma exposição, que nos convida a descobrir o trabalho e o talento” do pintor catalão” e seria uma pena que, “no meio da discussão” política, isso fosse esquecido.

“Mesmo aqueles que sintam que conhecem bem Miró, e que viram obras suas por todo o mundo, descobrirão aqui um artista mostrado em toda a sua profundidade”, afirmou Cotter, acrescentando que “esta exposição é um contributo importante para a compreensão do trabalho do pintor catalão”, que considerou “um dos grandes artistas do século XX”.

A conferência de imprensa simpaticamente improvisada esta sexta-feira de manhã no átrio da Casa de Serralves, com oradores e jornalistas rodeados de dezenas de obras de Miró, abriu com algumas palavras de circunstância da presidente da administração de Serralves, Ana Pinho, a quem se seguiu o representante da Fundação la Caixa, Ignacio Miró (a coincidência de apelidos não passa disso mesmo), mecenas da exposição, que lembrou a exposição que a Casa de Serralves acolheu em 1991 da colecção de arte contemporânea da fundação espanhola, bem como a mostra de obras do acervo de Serralves que o então director artístico João Fernandes levou em 2004 à sede da la Caixa em Barcelona. Uma instituição cuja relação com Miró está parente no próprio logótipo do grupo la Caixa, que reproduz uma pintura que o artista doou à instituição em 1979.

Tanto Ana Pinho como Suzanne Cotter salientaram o excelente resultado da colaboração entre o comissário Robert Lubar Messeri e Álvaro Siza, e o modo como este último conseguira pôr a arquitectura da bela casa cor-de-rosa a dialogar com as obras de Miró. “Uma conversa muito feliz”, resumiu a directora artística de Serralves.

Siza fez uma brevíssima intervenção, para os agradecimentos da praxe e para afirmar que “foi um prazer trabalhar com uma casa como esta e com uma obra como esta”, e também, acrescentou o arquitecto, apontando para as obras expostas à sua volta, fazê-lo “sobre a partitura de Robert Messeri, que tem a musicalidade que todos aqui podem ver”.

“Foi um bom momento quando me convidaram, mas fiquei preocupado”, contou ainda Siza. “Depois, com todos os apoios, acabou por não ser difícil, e acho que correu bem, mas agora quem vier visitar a exposição é que terá de dar a sua opinião”. Era talvez disto que falava Robert Messeri quando se referiu a Siza como “este homem maravilhoso, humilde e brilhante”, afirmando que ter podido trabalhar com o arquitecto do Porto foi “uma honra e um privilégio” que recordará como “uma das grandes colaborações” da sua vida profissional.

Siza, disse o comissário, “concebeu uma solução fantástica para as dificuldades que colocava este espaço magnífico e excêntrico, e a solução que encontrou é tão subtil que permite que as obras de Miró respirem e que a arquitectura também respire”.

Rui Moreira fala às 20h30

Antes de guiar os jornalistas numa visita pelas quase 80 peças que escolheu para esta exposição, Robert Lubar Messeri, um dos grandes especialistas mundiais em Miró, pediu para fazer alguns breves comentários prévios, e o primeiro foi para explicar que, quando lhe chegou o convite para comissariar esta exposição, já conhecia a colecção do BPN, uma vez que fora convidado pela Christie’s para fazer uma palestra sobre ela a preceder o programado leilão das obras em Londres. “Lembro-me muito claramente de ter começado a ver as obras e de ter pensado para mim próprio: ‘Mas porquê?!, por que é que Portugal quer deixar escapar uma colecção como esta?’”. Quando uns dias depois soube que o leilão fora cancelado, diz ter ficado “encantado”.

Confirmando a ideia deixada antes por Suzanne Cotter de que esta colecção está longe de constituir um conjunto mais ou menos aleatório e anódino de obras de Miró, mas uma colecção que realmente amplia o conhecimento sobre o trabalho do artista catalão, o comissário explicou que as obras poderiam ser organizadas de muitas maneiras, mas que decidira não optar por uma abordagem cronológica, apostando antes em “mostrar o modo como Miró abordava os materiais”.

Equiparando o catalão a Paul Klee como “um dos artistas mais inventivos do século XX”, Messeri salienta que Miró “trabalhou em quase todos os meios concebíveis”, e que mesmo aqueles que não figuram na exposição de Serralves, como os trabalhos gráficos - “e ele foi um dos maiores artistas gráficos de todos os tempos” -, acabam por estar indirectamente representados por obras que com eles dialogam. Como “estas tapeçarias estão em diálogo com estas colagens, e estas, o modo como as recorta e lhes dá forma, dialogam com a notável série das ‘telas queimadas’”, acrescentou, apontando algumas das obras expostas para ilustrar o seu argumento.

Para o comissário, o modo como esta exposição nos faz “pensar na materialidade” da obra de Miró é um dos seus pontos fortes, até porque, garante, não é “uma questão muito discutida” na vasta bibliografia dedicada ao artista.

Uma questão, essa sim, muito discutida, é a de saber onde vai o Porto instalar estes 80 e tal Mirós. Mas tudo indica que a pergunta terá esta sexta-feira à noite uma resposta definitiva, após a inauguração da exposição, marcada para as 18h30, que contará com não apenas com a presença do Presidente da República, do primeiro-ministro António Costa, do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, e do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, mas também com a de dois ilustres (e bastante desavindos) convidados espanhóis: o presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, e o presidente do Governo regional catalão, Carles Puigdemont, que acabou justamente de anunciar, esta quarta-feira, que irá convocar um referendo sobre a independência da Catalunha em 2017, com ou sem a bênção de Madrid.

Num comunicado à Lusa já esta sexta-feira de manhã, o que indica que as negociações terão prosseguido mais ou menos até à última hora, informa-se que Rui Moreira e a presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves, Ana Pinho, farão declarações às 20h30. 

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