Há cinco milhões de euros para inovar em análises e produção de fármacos

A empresa farmacêutica Hovione lançou o programa 9ºW que financia três projectos durante três anos. O processo de candidaturas está aberto durante 15 dias a partir desta quarta-feira.

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Hovione quer apostar na formação na área da química analítica SR Sandra Ribeiro

Produção contínua de produtos farmacêuticos, laboratórios analíticos inteligentes e formação de analistas químicos: estas são as áreas onde a empresa farmacêutica portuguesa Hovione quer inovar. Para isso, vai investir cinco milhões de euros em projectos que terão uma aplicação industrial imediata. O objectivo é para encontrar soluções para problemas ou desafios que enfrenta actualmente.

O desafio dirigido a universidades e centros de investigação foi anunciado em Julho ainda com alguns pormenores por revelar mas, desde logo, se percebeu que o apoio em investigação e desenvolvimento (I&D) não era de forma alguma desinteressado. Agora foram conhecidos mais alguns detalhes deste concurso a cinco milhões de euros, que quase se pode comparar a um contrato por cinco anos para investigação literalmente dedicada. Esta quarta-feira a Hovione anunciou que processo de selecção ao programa 9ºW está aberto e divulgou quais são as três áreas em que pretende investir.

Pretende-se, por exemplo, encontrar soluções inovadoras para a produção contínua de fármacos. Nesta área, os investigadores candidatos terão de ter em conta e trabalhar em sintonia com o recente acordo que esta empresa farmacêutica assinou com a empresa norte-americana Vertex e que prevê a instalação de uma unidade de produção de medicamentos em contínuo na fábrica da Hovione em New Jersey, nos EUA. Outra das áreas de investimento definida está nos laboratórios analíticos inteligentes. Neste caso, “projecto irá envolver a utilização de sistemas inteligentes, automação e robótica nos laboratórios analíticos, para obter uma melhor utilização dos recursos existentes e dar respostas mais eficazes aos requisitos da indústria e dos seus reguladores”.

Por fim, o terceiro alvo diz respeito à formação de analistas químicos. “A Hovione pretende trabalhar em conjunto com o sistema de ensino para encontrar uma solução que permita formar os nossos jovens em áreas que têm uma elevada empregabilidade”, refere o comunicado divulgado esta quarta-feira. A empresa adianta ainda que prevê “instalar um laboratório de química analítica completamente dotado do mais moderno equipamento na própria instituição de ensino [dos candidatos vencedores], para criar o ambiente de trabalho que permita desenvolver o saber fazer e os comportamentos certos”.

“São cinco milhões divididos por três projectos para pelo menos três anos e os projectos têm de ter uma massa crítica. Temos assuntos a resolver na nossa área e, se o fizéssemos sozinhos, levaríamos muito mais tempo”, adiantou em Julho ao PÚBLICO Guy Villax, administrador-delegado da empresa que produz princípios activos essenciais para que a indústria farmacêutica desenvolva os seus projectos de investigação em novos fármacos. No comunicado agora divulgado, o mesmo responsável refere que a empresa quer “construir parcerias invulgares para vencer desafios ambiciosos”. “Não vai ser um processo fácil. Ao criar parcerias com as universidades, com os politécnicos ou com as escolas profissionais com intuitos ambiciosos ou estruturantes, estamos a inovar e é provável que tudo não saia certo à primeira.  Vamos aprender com os nossos erros e persistir, pois duas cabeças pensam sempre melhor que uma só”, acredita Guy Villax.

O programa chama-se 9ºW (9 graus Oeste) porque esta é a longitude de Lisboa e porque o programa é inspirado no Prémio Longitude, que no século XVIII quis premiar a descoberta do cálculo da longitude na navegação de alto-mar com 20 mil libras.

A Hovione foi criada em Portugal em 1959 por Ivan Villax e dois outros refugiados húngaros, Nicholas de Horthy e Andrew Onody, formando o seu nome com a junção de sílabas dos apelidos dos fundadores. A empresa investiga e desenvolve novos processos químicos e produz princípios activos para a indústria farmacêutica mundial e somou cerca de 250 milhões de euros de receita em 2015. Emprega 1400 pessoas, das quais 750 em Portugal. No ano passado, esteve envolvida no desenvolvimento de três dos 45 novos fármacos aprovados pela agência norte-americana do medicamento (FDA, na sigla em inglês). É em Portugal que a empresa leva a cabo as suas actividades de investigação e desenvolvimento, nas quais emprega 220 técnicos e cientistas. 

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