Como podemos enfrentar a violência doméstica?

O que é a violência doméstica? Porque é que acontece? E o que permite que continue?

A violência doméstica abrange qualquer comportamento agressivo intencional praticado por uma das partes numa relação íntima, contra a outra parte. Independentemente do tipo de ofensa, física ou emocional, ou da dimensão da violência doméstica, há sempre um denominador comum – a determinação de uma pessoa exercer, e manter, poder e controlo sobre outra.

A violência doméstica é transversal a todo o tipo de comunidades e é um fenómeno desprezível que é cego em relação ao nível económico, à raça, à religião, à nacionalidade, à orientação sexual e à idade. Contudo, o facto é que continua a haver uma maior probabilidade das vítimas de violência doméstica serem mulheres – tanto nos EUA como em Portugal, 85% das vítimas de violência doméstica são mulheres.

Para muitas vítimas, a questão de se manterem em relações abusivas reduz-se a escolhas horríveis entre males menores – a capacidade financeira de se sustentarem, a si mesmas e aos seus filhos, ou libertarem-se da violência. Quando confrontadas com estas alternativas, muitas escolhem ficar, sabendo que isso significa a continuação do abuso. É claro que há outros aspectos a considerar que pesam nesta decisão – o risco do aumento da violência pela tentativa de escapar, o medo de abandonar a vida tal como a conhecem, o risco de perder o emprego, entre outros. Mas um dos principais obstáculos para muitas vítimas é o facto de serem financeiramente dependentes dos seus parceiros, estando extremamente receosas de não se conseguirem sustentar, a si e aos seus filhos, se abandonarem a relação.

É também necessário que percebamos o papel da sociedade na perpetuação de uma cultura que inibe a independência financeira das mulheres e permite que um género exerça poder e controlo sobre outro. Quando falamos de liberdade financeira e dos papéis socioeconómicos, em tantas sociedades pelo mundo fora, a questão do género continua a fazer diferença. As disparidades salariais entre homens e mulheres continuam a ser substanciais, há significativamente menos mulheres em posições executivas ou em conselhos de administração, e apenas uma mão-cheia de mulheres com cargos de liderança a nível mundial. Entretanto, as mulheres continuam a suportar um peso significativamente maior no que respeita a responsabilidades familiares.

A violência doméstica é um crime em muitos países, incluindo Portugal, mas muitas vezes as vítimas não têm consciência deste facto, nem dos seus direitos, nem tão pouco dos recursos disponíveis para se protegerem, a si e a outros, de crimes de violência. Instituições como a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) podem dar apoio emocional, prático, legal, social e psicológico às vítimas de crimes e violência, bem como às suas famílias e amigos. Todos podemos ajudar referindo as vítimas àqueles que podem prestar assistência profissional.

Para as vítimas pode ser difícil escaparem de relações abusivas e quebrarem os ciclos de violência por muitas razões, mas todos podemos fazer a nossa parte no que toca a dar ferramentas, competências e oportunidades de networking para que as mulheres possam ser mais bem-sucedidas financeiramente, e trabalhar em prol de uma sociedade que oferece às mulheres mais oportunidades para a igualdade financeira. É por esta razão que tanto nos Estados Unidos, como durante a minha estadia em Portugal, tenho trabalhado para promover a auto-suficiência económica das mulheres. Em Portugal, o Connect to Success é a iniciativa da Embaixada que apoia o empreendedorismo feminino, dando as competências necessárias às empreendedoras para que possam fazer crescer os seus negócios. Além disso, promover uma maior sensibilização da população em geral e partilhar informação sobre serviços de apoio às vítimas como a APAV, tal como a Embaixada tem feito, também pode ajudar. Espero que o nosso esforço contribua para promover as condições que fazem com que abandonar uma relação abusiva seja possível para mais vítimas.

Embaixatriz dos EUA em Portugal

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