Berlengas com campanha de erradicação de ratos e coelhos

O objectivo desta intervenção é aproximar a Berlenga daquilo que era antes da introdução destas espécies e com isso espera-se que haja uma recuperação positiva da flora e da fauna, bem como de todo o ecossistema.

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No âmbito do controlo anual de gaivotas são destruídos 60 mil ovos por ano Nelson Garrido

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), responsável pelo projecto Life Berlengas, vai iniciar na quinta-feira a remoção do rato-preto e do coelho-bravo na Berlenga, uma campanha já contestada pelo Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV).

"O que se pretende é aproximar a Berlenga daquilo que era antes destas espécies e com esta intervenção espera-se que haja uma recuperação positiva da flora e da fauna, bem como de todo o ecossistema", disse à agência Lusa Joana Andrade, da SPEA, que coordena o projecto de investigação Life BerlengasDe acordo com a bióloga, "a remoção destas espécies é preferencial ao seu controlo, porque o seu controlo não tem eficácia, nem traz benefícios positivos para o ecossistema".

A campanha vai começar na quinta-feira e deverá prolongar-se até Novembro. Por toda a ilha, vão ser colocadas estações com iscos com veneno, com o objectivo de "atingir a maior parte dos indivíduos" que, no caso do rato-preto, se calcula chegarem aos três milhares, estima a SPEA. No caso do coelho, poderão ser também usadas técnicas de caça.

Em comunicado, "Os Verdes" colocam em causa o plano de erradicação daquelas espécies, por defenderem que "até à data não há prova científica de que o rato-preto e o coelho possam ser realmente considerados espécies invasoras na Berlenga, trazidas pelo homem" e que não existem conhecimentos "suficientes para que se consiga concluir que estas duas espécies têm um impacte significativo negativo sobre as aves nidificantes da ilha que justifique e suporte o seu extermínio".

A bióloga Joana Andrade respondeu que "não há diferenciação dessas povoações para as povoações continentais", uma vez que não são nativas.

"Ratos trazidos da Ásia"

"Temos a certeza de que os coelhos foram levados de propósito pelo homem, porque a ilha da Berlenga já funcionou como reserva de caça. Dados que temos demonstram que não são uma população selvagem e apresentam muitas semelhanças com os coelhos domésticos. Quanto aos ratos, foram trazidos da Ásia, já são invasores no continente, por isso muito dificilmente terão vindo da Ásia para a Berlenga de forma natural sem serem trazidos pelo homem", justificou.

O PEV coloca também em causa o método utilizado na campanha, que, segundo a SPEA, vai ser realizada "de acordo com o que a legislação nacional prevê e de acordo com as orientações internacionais para a conservação da natureza".

Trata-se da primeira vez que vai ser realizada uma campanha de erradicação do coelho-bravo na ilha maior, ao contrário do rato-preto, em relação ao qual todos os anos há uma intervenção nesse sentido na zona habitada da ilha e na própria cidade de Peniche.

No âmbito do Life Berlengas, é também feito o controlo anual de gaivotas com a destruição de 60 mil ovos por ano, está a ser feita a remoção do chorão, outra das espécies invasoras do arquipélago, além da monitorização das espécies marinhas.

"Já se começa a notar alguma recuperação de habitats, porque as gaivotas, que são hoje metade do que eram, já não ocupam tanta área como ocupavam, o que permite também uma recuperação da própria vegetação", adiantou.

O projecto, que está previsto terminar em Setembro de 2018, tem como objectivos a conservação de habitats e espécies ameaçadas naquela reserva natural, através da gestão sustentável do ecossistema, e junta como parceiros a SPEA, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Câmara Municipal de Peniche e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

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