Dos suaves ventos do Sul às ameaças reais

O entendimento balbuciado a Sul, em Atenas, surgiu num dia em que o mundo enfrentou novas ameaças

Tendo por anfitrião Alexis Tsipras, a cimeira de sete governantes de países do Sul em Atenas não foi conclusiva mas exploratória. Avançou com algumas reivindicações, é certo (como mais investimento para combater a estagnação da economia) e terminou com promessas de continuidade: os países que ali se reuniram (Grécia, França, Itália, Portugal, Espanha, Chipre e Malta) voltarão a encontrar-se em Lisboa, numa data a definir. Mas foi o simples facto de existir que deu importância a tal cimeira. O Sul pode reunir esforços, como aliás o fazem o Norte europeu, ou os países mais fortes da União, para debater interesses e concertar estratégias. França, ao jogar neste tabuleiro, tenta uma habilidade equilibrista no tumulto de uma União sem grande norte (mas com Norte e Sul cada vez mais afastados), antecipando dificuldades futuras. Hollande falou, por isso, numa “mensagem de unidade, de coesão”, saída de Atenas rumo a Bruxelas. Mas provavelmente nem mesmo ele acreditará que essa unidade ou coesão são dados adquiridos, pelo contrário. Renzi apontou o dedo à austeridade, dizendo que a Europa não pode mais continuar a ser governada por ela; e António Costa disse que os países com excedentes têm “o dever de investir mais.” Mas a antecipar o que se ouvirá por certo na reunião informal de líderes europeus em Bratislava, na próxima semana (onde estarão todos menos o Reino Unido, já num lento processo de saída), a reacção de Schäuble foi trocista (“Quando líderes de partidos socialistas se encontram, não sai, na maioria das vezes, nada de muito inteligente”) e a de Jeroen Dijsselbloem pouco polida e nada educada, ao dizer, referindo-se aos gregos, que “o Verão acabou, precisamos de progresso e é altura de arrumar o material de campismo.” Em suma: gregos, paguem o que devem; portugueses e espanhóis, verão congelados os vossos fundos europeus.

Numa perspectiva muito optimista, estas concertações de interesses podem contribuir para o reforço da União (clarificando divergências e permitindo acordos mais firmes) ou, pelo contrário, suscitar um esboroamento maior daquilo que se pretende unir. Não tardaremos a saber, até porque estes grupos (Sul, Norte e os “três grandes”, onde a Itália substituiu o Reino Unido ao lado da Alemanha e da França) tenderão a digladiar-se nos problemas mais sensíveis, como o dos refugiados ou o futuro da própria União.

Enquanto isto se discutia, o déspota Kim Jong-un fazia o seu quinto e mais potente ensaio nuclear na Coreia do Norte, pondo o mundo de novo em alerta; e em Paris, por investigação da polícia local, eram presas três mulheres alegadamente ligadas a um comando bombista que estaria a preparar um atentado na gare de Lyon – um carro com botijas de gás denunciou-as. Foram descritas como “jovens radicalizadas, fanatizadas”, com ligações à Síria e um ímpeto destruidor que foi, felizmente, travado. Perante isto, os grupismos europeus chegam a parecer irrisórios. Mas também eles, tal como a vaga dos terrorismos, nascem de uma instabilidade geral que tarda a encontrar regeneração.

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