Calor de Setembro não dá tréguas aos bombeiros

Chamas obrigaram à evacuação de várias aldeias na região Norte. Área ardida em Agosto foi duas vezes e meia superior à média.

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Ao início da tarde desta terça-feira 39 operacionais combatiam as chamas no terreno Paulo Pimenta (arquivo)

Depois de um Agosto em que os números da área ardida voltaram a valores recorde, o calor continua a não dar tréguas aos bombeiros neste início de Setembro. Ao início da noite desta terça-feira eram perto de 100 os incêndios activos em todo o país, concentrando no terreno a mobilização de mais de 3800 operacionais, apoiados por mais de mil viaturas terrestres e dois meios aéreos, de acordo com os dados da Protecção Civil.

Desta centena de incêndios, 18 estavam a preocupar as autoridades, sendo o de Tapéus, no concelho de Soure, Coimbra, com mais de 500 bombeiros envolvidos, o que mais meios mobilizava ao início da noite.

Entre os maiores incêndios estava também o da aldeia de Paradela, no Soajo, Arcos de Valdevez, situada na área do Parque Nacional da Peneda Gerês. A zona esteve a ser evacuada por causa de um incêndio de "grandes dimensões", disse à agência Lusa o comandante dos bombeiros locais, que indicou que “14 a 16 pessoas” foram retiradas das suas casas e encaminhadas para o centro de dia. Durante a tarde, cerca de duas dezenas de habitantes de Várzea, na mesma freguesia, e alguns militares da GNR ficaram retidos naquele povoado devido a outro incêndio, quando o fogo tomou conta da estrada de acesso.

Os fogos naquele concelho obrigaram a Câmara de Arcos de Valdevez a accionar o Plano Municipal de Emergência. Três populares foram assistidos no Hospital de Ponte de Lima por queimaduras ligeiras e inalação de fumos.

Também a aldeia de Torneiros teve de ser evacuada devido à proximidade de um fogo que lavra desde segunda-feira no concelho de Boticas. Seis idosos e duas crianças foram retirados da aldeia e acolhidos na Misericórdia local, onde um ginásio da instituição foi transformado em centro de acolhimento. Pelo menos três armazéns não escaparam à violência das chamas. Já em Montargil, Ponte de Sor, onde 246 operacionais combatiam as chamas cerca das 21h30, uma habitação foi totalmente consumida pelo fogo.

Este início de Setembro parece assim seguir a tendência para a persistência de um elevado número de ignições que se prolongou por todo o mês de Agosto, quando ardeu mais de 90% de toda a área consumida este ano pelos fogos. Ao todo arderam no mês passado 99.344 hectares em todo o país — mais do dobro da média dos últimos dez anos —, dos quais 47.954 correspondem aos 404 incêndios que deflagraram apenas no dia 8.

Os números foram avançados nesta terça-feira pelo comandante nacional operacional da Protecção Civil, José Manuel Moura, que revelou que entre os dias 6 e 14 de Agosto o número de ignições esteve acima das 250 e que só nos dias 7 e 8 se registaram mais de 400 ocorrências diárias.

Em comparação com os últimos dez anos, os dados avançados hoje mostram uma diminuição no número de ocorrências (21,8%) e um aumento da área ardida (45,2%) em 2016 até 31 de Agosto. No entanto, se tivermos apenas em conta os números relativos ao último mês, tanto a área ardida como o número de ocorrências registaram um aumento relativamente à média do decénio. Foram registadas mais 961 ocorrências face a uma média de 4526 ignições no mês de Agosto e a área ardida foi duas vezes e meia superior à média (39.592 hectares).

Falando em conferência de imprensa na sede da Autoridade Nacional de Protecção Civil, em Carnaxide, José Manuel Moura indiciou que alguns dos incêndios não foram combatidos mais rapidamente por não existirem condições de combate. Por vezes, explicou, a severidade meteorológica não deixa os operacionais realizarem o seu trabalho devido à rápida propagação dos fogos e, segundo o comandante da ANPC, essa severidade é mesmo “a única razão para explicar” os valores elevados da área ardida.

Durante a fase Charlie do dispositivo especial de combate a incêndios florestais, o distrito do Porto foi até agora o que registou mais ignições (2733) e Aveiro foi o que contabilizou mais área ardida, devido aos incêndios que deflagraram nos concelhos de Arouca e Águeda. Viana do Castelo, Santarém e Guarda também registaram valores de área ardida elevados.

 

 

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