Pouca-terra, pouco-espaço, o comboio do Douro a caminho do Porto

Numa das mais concorridas ligações entre a Régua e o Porto o serviço oferecido pela CP continua a mostrar algumas debilidades.

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Centenas que sobem de barco, escolhem depois descer de comboio FERNANDO VELUDO/NFACTOS

Fim de tarde do último sábado de Agosto. Cerca de 15 minutos antes de o comboio que liga o Pocinho ao Porto chegar à estação da Régua, uma fila de centenas de pessoas perde-se de vista ao longo da plataforma número 1. Muitos turistas, maioritariamente portugueses, apertam-se no limite da plataforma, tentando adivinhar o melhor posicionamento em direcção à porta de entrada de uma das carruagens na expectativa de arranjar um lugar sentado para a viagem de mais de duas horas até ao destino. Nem todos terão essa sorte.

Há uma semana, o cenário na ligação das 18h45, uma das mais concorridas, foi de absoluto caos, com gente sentada pelo chão, sem lugar num comboio demasiado pequeno para tanta procura estival. Hoje o comboio chega com um atraso de dez minutos. E quando as portas se abrem, ainda os passageiros que tinham embarcado em estações anteriores não tinham saído, e já se sobem os degraus de acesso às carruagens por entre tropeções e protestos de quem quer desembarcar. 

Ainda assim menos desesperante do que na semana anterior, pelas descrições de passageiros, o cenário de confusão é completamente oposto ao que encontra quem sobe o Douro, de Campanhã, em direcção ao Pocinho, ao início da tarde. “Isto é sempre assim tranquilo”, diz ao PÚBLICO Paulo Espanhol, que faz a viagem entre Ermesinde e o Pinhão com regularidade há mais de 15 anos. Já Carlos Reis, que seguia para Lamego no comboio com capacidade para 200 pessoas, com metade dos lugares desocupados, alerta: “Para lá é sempre sossegado, para cá é que é mais complicado”.

O fim de tarde haveria de confirmar o alerta de Carlos Reis. Centenas de pessoas que subiram o Douro de barco, em passeio turístico, optam por regressar ao Porto de comboio, eventualmente antecipando uma viagem aprazível, com vista para a paisagem deslumbrante. Mas, em vez disso, hoje, para umas dezenas, durante cerca de uma hora e meia, esse regresso é feito de pé, num desconforto exasperante. 

Liliete Matias, que guiava um grupo de 51 pessoas, que subiu o Douro de barco desde o Porto até à Régua, queixa-se da falta de condições em que viaja o grupo, que diz ser “maioritariamente sénior” e “com problemas de mobilidade”. Comprou os bilhetes com alguns dias de antecedência para não correr o risco de não haver lugares para todos, pensando que isso fosse suficiente para garantir que viajassem sentados. “Se não há mais lugares sentados não devia ser permitido vender mais bilhetes”, protesta. 

Na carruagem em que o grupo seguia, a temperatura do ar, temperada pelo ar condicionado (aqui a fazer-se sentir), ajudava a arrefecer os ânimos exaltados por obra de algum desconforto. Mas na passagem para a carruagem do meio a temperatura subia para o nível do insuportável. Eva Nunes, que dividia o espaço de duas cadeiras com duas crianças, mais do que salientar o facto de haver alguns passageiros que viajavam de pé, aponta a falta de ar condicionado daquela carruagem como uma “falha inconcebível”, sobretudo, na altura do Verão. Para um maior conforto, especialmente, dos passageiros mais novos e mais velhos, sugere que esta linha passe a ter lugares marcados.

A viajar no corredor entre carruagens, em cadeira de rodas, Nuno Pedrosa diz não ter sido informado, na bilheteira, da existência de lugares para pessoas com mobilidade reduzida. Natural da Figueira da Foz, Nuno está de férias, bem disposto, e, por isso, desvaloriza a questão. Alguns dos passageiros que viajam nesta linha com mais frequência dizem que, apesar das pessoas que hoje viajam de pé, este nem é um dos dias piores. 

Para isso terá contribuído o reforço do número de composições, que de acordo com alguns relatos, habitualmente são apenas duas, com 200 lugares sentados cada, e não três, como aconteceu nesta viagem. Por outro lado, Na Régua, muitos dos turistas que sobem o rio de barco, ou descem do Pocinho até à Régua no Comboio Histórico do Douro, passaram a ser reencaminhados por alguns operadores para camionetas, (ver texto principal), dada a incapacidade da CP em dar resposta à procura.   

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