Escritores apelam à libertação da romancista turca Asli Erdogan

Alberto Manguel e Lídia Jorge entre os primeiros signatários da petição lançada pelos escritores franceses Patrick Deville e Olivier Rolin.

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Os romancistas franceses Patrick Deville e Olivier Rolin lançaram uma petição internacional a apelar à libertação da escritora, cientista e jornalista turca Asli Erdogan, que foi detida em casa na noite do passado dia 16 e está presa em Istambul, acusada de “propaganda a favor de organização terrorista”, “pertença a organização terrorista” e “incitamento à desordem”.

Considerada uma das vozes mais importantes da nova literatura turca, com romances traduzidos em francês, inglês, alemão, sueco ou árabe, Asli Erdogan, que é física de formação e trabalhou na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, vulgo CERN, foi detida no âmbito de uma operação policial contra o jornal de esquerda Özgür Gündem, próximo do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), do qual é colaboradora. Foram presos 18 jornalistas e a operação abrangeu também várias buscas domiciliárias, como a que sofreu o editor de Asli Erdogan, Ragip Zarakolu, responsável da chancela Belge e um veterano da luta pelos direitos humanos na Turquia.

A romancista, nascida em 1967, esteve três dias guardada à vista e impedida de contactar com o seu advogado no Departamento de Luta Contra o Terrorismo das forças de segurança turcas (Istanbul Emniyet Müdürlügü Terörle Mücadele Subesi), do qual só saiu para ser submetida a exames médicos, e foi levada a tribunal no dia 19, estando detida deste então na prisão para mulheres de Barkirkö, em Istambul.

Entre os primeiros signatários da petição lançada por Deville e Rolin contam-se os romancistas portugueses Lídia Jorge e Almeida Faria, os escritores espanhóis José Manuel Fajardo, Javier Cercas e Rosa Montero, o prestigiado intelectual argentino Alberto Manguel, e autores como os franceses Antoine Volodine e Marie Darrieusecq, o alemão Peter Schneider, os brasileiros Bernardo Carvalho e João Paulo Cuenca, o cubano Leonardo Padura, o mexicano Jorge Volpi, o libanês Charif Majdalani, o argelino Boualem Sansal ou o egípcio Mahmoud Tawfik.

A investida contra o Özgür Gündem é um entre muitos episódios de repressão recente de meios de informação considerados próximos do movimento independentista curdo, uma simpatia que, na ressaca do fracassado golpe de Estado de Julho – alegadamente promovido pela organização do imã Fetullah Gülen, exilado nos Estados Unidos –, o Governo de Recep Tayyip Erdogan tende hoje a encarar como traição. Dezenas de meios de informação foram compulsivamente encerrados, muitos jornalistas foram presos e vários livros sobre a questão curda foram retirados de circulação.

Logo após o golpe de Julho, já tinha sido preso o poeta octogenário Hilmi Yavuz, acusado de cumplicidade com o movimento de Gülen. E segundo a organização PEN International, que também lançou uma campanha pela libertação de Asli Erdogan, o número de escritores e jornalistas detidos na Turquia já atingia quase uma centena no passado dia 22 de Agosto.

 

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