Eleições açorianas: E no final ganha o PS?

Depois de um ciclo de poder de 20 anos liderado por Mota Amaral, o PSD tem somado derrotas desde 1996. Em Outubro, todos os indicadores apontam para nova vitória socialista nos Açores, a dúvida passa por saber se haverá nova maioria absoluta.

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As eleições para o Parlamento açoriano realizam-se em Outubro Carlos Lopes/Arquivo

O futebol é 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha. A frase popularizada pelo ex-avançado inglês Gary Lineker, pode bem aplicar-se ao Partido Socialista nos Açores que, nas últimas duas décadas tem tido até maior hegemonia nos sucessivos actos eleitoriais, do que a selecção germânica no futebol. Não é verdade, Fernando Santos?

Primeiro pela mão de Carlos César, e agora sob a liderança de Vasco Cordeiro, os socialistas governam o arquipélago desde 1996, quando César derrotou o PSD de Álvaro Dâmaso, o delfim de Mota Amaral, nas urnas. Foi o fim de um ciclo, também ele de 20 anos, de poder social-democrata na região autónoma, que se prolongava desde as primeiras eleições regionais, em 1976.

A 16 de Outubro próximo, data em que os açorianos regressam às urnas para escolher o governo para os próximos quatro anos, a dúvida não reside se o PS ganha ou não as regionais, mas sim por quantos. Quem diz é a própria oposição. O CDS e o PCP, por exemplo, assumem abertamente no discurso politico essa quase inevitabilidade, apostando na tentativa de evitar que Vasco Cordeiro renove a maioria absoluta conquistada em 2012.

Há quatro anos, Cordeiro era praticamente desconhecido do panorama político nacional, mas pegou no partido entregue por Carlos César, que se afastou em nome da renovação, e arrancou uma vitória expressiva, conquistando 31 dos 57 lugares da Assembleia Legislativa dos Açores. O PSD, liderado então pela ex-autarca de Ponta Delgada, Berta Cabral, partia como favorito, mas quedou-se pelos 20 mandatos. CDS com três deputados, Bloco, PCP e Partido Monárquico (todos com um) completam a geografia do parlamento açoriano.

Uma casa que Vasco Cordeiro conhece bem. Deputado regional desde 1996, o chefe do executivo açoriano desempenhou vários cargos na estrutura local do partido e nos governos liderados por Carlos César, que lhe confiou a importante pasta da Agricultura e Pescas, numa região em que metade da economia assenta na agropecuária.

Próximo de César, este jurista de 43 anos, pai de dois rapazes de 6 e 3 anos, conta novamente com o apoio do presidente honorário do PS-Açores e líder da bancada socialista em São Bento, que será mais uma vez mandatário regional do partido. Para já Cordeiro, pode orgulhar-se de ter tido melhores resultados na estreia do que o histórico dirigente socialista açoriano. Resta saber se irá conseguir crescer o eleitorado tal como César fez nas eleições seguintes.

Ciclos de quatro anos no PSD

O PSD não concorda em vitórias antecipadas. Duarte Freitas confia num bom resultado do partido, porque, diz, o arquipélago tem problemas profundos ao nível do desemprego, da saúde e da economia que são o resultado directo das sucessivas governações socialistas. “Ao fim de 20 anos no poder, a única área do Governo que funciona é a da propaganda e do eleitoralismo”, acusa, criticando a proximidade entre a política partidária e a administração pública regional, que tem sido cultivada pelo PS.

Freitas preside aos social-democratas açorianos desde Dezembro de 2012, depois de Berta Cabral ter apresentado a demissão no rescaldo da noite eleitoral. O PSD, após a saída de Mota Amaral, em 1996, ainda não se encontrou. Álvaro Dâmaso (1996), Manuel Arruda (2000), Vítor Cruz (2004), Carlos Costa Neves (2008) e Berta Cabral (2012) foram cumprindo ciclos eleitorais à frente do PSD, caindo invariavelmente na ressaca das vitórias socialistas.

Duarte Freitas quer ser a excepção, e tem tratado de agregar o partido em torno destas eleições. O convite para ser mandatário da candidatura, já aceite, endereçado a José Bolieiro, actual presidente da Câmara de Ponta Delgada, a maior das ilhas, é disso exemplo.

Obrigar a negociar

Nos partidos mais pequenos, a ideia é mais modesta: retirar a maioria absoluta para obrigar os socialista a negociar. Artur Lima, líder do CDS local que preside os centristas açorianos desde 2007, “não tem dúvidas” que o PS vai vencer as eleições de Outubro. Médico-dentista, “com consultório aberto”, o líder centrista, pai de duas “lindas meninas”, é deputado há duas legislaturas, e aposta tudo na perda da maioria absoluta. “O primeiro governo do PS foi o melhor para os Açores, exactamente porque não tinham maioria”, argumenta, dizendo que o PSD não é uma “alternativa” e que caberá a todos os partidos da oposição “cresceram um bocadinho” para que Cordeiro tenha que negociar as suas políticas.

No mesmo sentido, Aníbal Pires, que coordena o PCP no arquipélago desde 2005, admite que todos os indicadores dão a vitória ao PS, e por isso aponta como objectivo a retirada da maioria absoluta a Cordeiro. “Seria muito importante para os Açores, pois iria trazer mais diálogo”, defende.

Professor do ensino secundário de 60 anos, casado, três filhos e dois netos, Pires é deputado regional desde 2008. Em Outubro espera não só manter a cadeira no parlamento açoriano como ter grupo parlamentar, como aconteceu entre 2000 e 2004.

Nos Açores, onde existem nove círculos eleitorais, um por cada uma das ilhas, e um círculo regional de compensação, que elege cinco deputados, o Bloco de Esquerda e Partido Popular Monárquico querem também ter uma palavra a dizer.

Paulo Estêvão, alentejano de nascimento, começou a carreira profissional de professor nos Açores, onde entrou também para a política. Primeiro no CDS e depois, em 2008, no PPM, onde, pelo Corvo, conseguiu um lugar no parlamento açoriano, que repetiu em 2012.

Já o Bloco, tem no arquipélago uma liderança bicéfala. Zuraida Soares e Paulo Mendes coordenam o partido, cabendo à primeira, que é deputada há duas legislaturas, ser o rosto mais visível das próximas eleições. Os objectivos passam por ter um grupo parlamentar, beneficiando do efeito nacional do partido, que se reflectiu nos dois últimos actos eleitorais na Madeira.

Os principais desafios que o executivo que sair das regionais de Outubro terá pela frente são a questão da saída norte-americana das Lajes e os problemas relacionados com o sector do leite, afectado pelo fim das quotas leiteiras imposta por Bruxelas.

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