Morreu Bobby Hutcherson, um histórico do vibrafone e da Blue Note

O vibrafonista americano tinha 75 anos e editara o seu último álbum, Enjoy the View, em 2014.

Foto

O vibrafonista norte-americano Bobby Hutcherson, considerado um dos últimos históricos do jazz naquele instrumento sempre mais de bastidores do que da ribalta, morreu esta segunda-feira, aos 75 anos, em Montara, na Califórnia (EUA), revelou o jornal New York Times.

O músico, que morreu em consequência de um enfisema pulmonar, fez-se notar a partir dos anos 1960, em Nova Iorque, e tornar-se-ia um dos maiores activistas da diversificação da linguagem do vibrafone e um dos seus mais lendários praticantes. Mas como recordava um dos críticos do The Guardian há apenas dois anos, quando editou o seu último disco, Enjoy the View, na editora que entre 1963 e 1977 foi a sua casa, a mítica Blue Note, Hutcherson não foi só um dois melhores vibrafonistas de sempre: chegou a ser "um dos mais criativos músicos da Blue Note", independentemente do instrumento.

Fluente na linguagem mais conservadora do bop, não deixou de ser "um dos primeiros a adaptar o vibrafone à linguagem mais livre do pós-bop", recorda o obituário do New York Times, integrando uma geração de novos artistas que empurraram a Blue Note em direcção ao experimentalismo, e que incluía, aponta o diário norte-americano, o pianista Andrew Hill e o saxofonista Jackie McLean.

Nascido em Los Angeles em 1941, filho de um trolha e de uma cabeleireira, escolheu o vibrafone (também tocava marimba), apesar de ter tido aulas de piano, depois de uma epifania ao ouvir uma gravação do vibrafonista Milt Jackson numa loja de discos. Depois de um começo muito pouco auspicioso com a formação do contrabaixista Herbie Lewis, acabou por seguir a carreira e chegar a Nova Iorque, onde chegou a ter um táxi para pagar as contas (já era casado com Beth Buford, com quem teve um filho, Barry, que seria a inspiração da sua mais famosa faixa, Little B's Poem). Foi parar à Blue Note graças ao mesmo Herbie Lewis, que o apresentou a Jackie McLean; One Step Beyond, de McLean, foi a sua primeira gravação para a editora. "A partir de então, esteve sempre ocupado", conta o New York Times.

Com mais de 40 álbuns editados, o primeiro dos quais, Dialogue, em 1965, Hutcherson chegou a actuar várias vezes em Portugal, nomeadamente nos festivais Jazz num Dia de Verão, em Palmela (1983), Guimarães Jazz (2003) e Estoril Jazz (2008).

Depois de ter gravado noutras editoras, entre as quais a europeia Kind of Blue, voltou à Blue Note já mais recentemente, onde gravou com Joey DeFrancesco, David Sanborn e Billy Hart aquele que viria a ser o seu último disco.

Em 1986, participou no filme À Volta da Meia-Noite, de Bertrand Tavernier, ao lado do saxofonista Dexter Gordon e do pianista Herbie Hancock

Sugerir correcção
Comentar