“Testes ideológicos” — a nova proposta de Trump para limitar imigração

Candidato republicano quer submeter requerentes de nacionalidade norte-americana a um processo de “supervisão extrema” com origem na Guerra Fria.

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Donald Trump durante o discurso no Ohio Jeff Swensen / AFP

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, enunciou na segunda-feira a sua estratégia para combater aquilo que chama de “terror islâmico radical” dentro e fora de portas. O magnata do imobiliário quer impor fortes limites à imigração e voltou a referir a “suspensão temporária” da entrada de pessoas provenientes de certos países “exportadores de terrorismo”.

No campo externo, Trump disse estar disposto a combater o Estado Islâmico ao lado da Rússia, mas não especificou que contornos irá assumir essa intervenção.

Como tem sido habitual na campanha de Trump — marcada por declarações retumbantes para seduzir o seu eleitorado fiel para, mais tarde, recuar ou desmenti-las — o candidato voltou a suavizar uma das suas promessas mais controversas. Em Dezembro passado, Trump pedia “uma total e completa interdição da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos”.

No discurso que fez na segunda-feira no Ohio, o candidato republicano prometeu “suspender temporariamente a imigração de algumas das mais perigosas e voláteis regiões do mundo, que têm um historial de exportação de terrorismo”. Trump não especificou que regiões são estas nem o que entende por “exportação de terrorismo” — conceitos tão pouco concretos que, no limite, podem incluir aliados históricos dos EUA como a França, a Alemanha ou a Bélgica, onde ocorreram nos últimos meses atentados terroristas.

A grande revelação do programa de Trump é a introdução de um “teste ideológico” aos imigrantes que requerem a cidadania norte-americana, reminiscente dos tempos da Guerra Fria. Foi precisamente nesta época que o milionário nova-iorquino, que prometeu construir um muro na fronteira com o México para impedir entradas ilegais, se inspirou.

“Durante a Guerra Fria tínhamos um teste ideológico de monitorização. É tempo para desenvolver um novo teste de despistagem para as ameaças que enfrentamos hoje”, disse Trump. O candidato à Casa Branca apelida a iniciativa de “supervisão extrema” com o objectivo de detectar “qualquer atitude hostil” contra os princípios norte-americanos ou sinalizar indivíduos “que acreditam que a lei da sharia [lei baseada no Corão] deve suplantar o direito americano”.

“Aqueles que não acreditam na nossa Constituição ou que promovem a intolerância ou o ódio não serão autorizados a imigrar para o nosso país”, garantiu Trump, durante um discurso menos emotivo que o normal, com o candidato a cingir-se quase em exclusivo à leitura do teleponto, descreve o Washington Post.

Para derrotar o grupo jihadista Estado Islâmico, Trump acredita poder encontrar “terreno comum com a Rússia”. Os dois países têm bombardeado posições controladas pelo grupo terrorista na Síria e no Iraque, mas Moscovo tem sido acusada de privilegiar o combate aos grupos rebeldes que lutam contra as forças do Presidente Bashar al-Assad, aliado da Rússia.

Não houve, porém, qualquer referência em como é que a estratégia de Trump no terreno seria diferente da que é hoje levada a cabo. Noutras ocasiões, o candidato garantiu “rebentar” com o Estado Islâmico e disse ter “um grande plano” para combater o grupo, que, no entanto, teria de permanecer secreto para evitar fugas de informação.

Trump voltou a culpar o Presidente Barack Obama e a sua adversária democrata Hillary Clinton pela emergência do Estado Islâmico, dias depois de lhes ter atribuído o papel de “fundadores” do grupo terrorista — numa primeira abordagem o candidato disse tratar-se de “sarcasmo”, mas voltou entretanto a utilizar a expressão. O milionário referiu novamente ter sido contra a invasão do Iraque em 2003, que Clinton apoiou como senadora, apesar de não ser verdade que tenha manifestado essa posição publicamente. A primeira vez que condenou a intervenção norte-americana foi em Agosto de 2004, mais de um ano após o início da operação.

O discurso de Trump sobre política de segurança acontece numa das piores fases da campanha do magnata, envolvido em polémica atrás de polémica, desde a controvérsia que envolveu os pais de um soldado morto no Iraque, até ao alegado envolvimento do seu director de campanha num esquema de corrupção na Ucrânia.

 

 

 

 

 

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