Temas para Passos no Pontal? Caixa, défice, Galp, economia fraca, OE2017

Depois de cinco anos a subir ao palco da Festa do Pontal também como líder do Governo, Passos Coelho regressa este domingo ao Calçadão de Quarteira apenas como presidente do PSD. E com os bolsos recheados de críticas ao Governo.

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No ano passado, a dois meses das legislativas, a festa do Pontal foi o pontapé de saída da campanha eleitoral da coligação com o CDS-PP. Os símbolos do PSD desapareceram para dar lugar aos do Portugal à Frente. Vasco Célio

Talvez não use o termo “diabo” no discurso deste domingo à noite, mas a ideia de que o futuro do país está em risco a curto ou médio prazo voltará a dar o mote à intervenção de Pedro Passos Coelho no Calçadão de Quarteira, na tradicional Festa do Pontal. Porque o líder do PSD está apostado em manter a sua aura de político responsável, que alerta para o pior cenário. Mas também porque nas últimas semanas foi juntando trunfos e argumentário. E são esses que tem que usar para tentar contrariar a queda contínua nas sondagens.

Temas para explorar não faltam. A Caixa Geral de Depósitos, alvo de comissão de inquérito e com uma administração a prazo por mais 15 dias, confronta-se com as imposições do BCE sobre o tamanho da equipa de gestão e os poderes do presidente. Depois da decisão de não multar Portugal pelo défice de 2015, Bruxelas apertou as exigências, pedindo medidas de consolidação orçamental de 0,25% do PIB até Dezembro – sendo certo que a austeridade ainda este ano ou no OE2017 fará tremer a geringonça, com BE e PCP a recusarem liminarmente cortes ou congelamentos. O INE revelou anteontem que, ao contrário das previsões do Governo, a economia cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre face ao anterior, com quebras nas exportações e no investimento. E o Executivo anunciou que não vai baixar o imposto sobre os combustíveis - que aumentara para compensar a redução do IVA.

Passos tem campo aberto para defender que com este caminho será impossível ao Governo cumprir as metas de Bruxelas e dar a volta à economia. E antevê o “diabo”, como quem diz, necessidade de nova ajuda externa. Talvez para daqui a um ano, se e quando voltar ao calçadão como líder do principal partido da oposição, poder dizer “nós avisámos”.

Pode ainda somar aos números a polémica com as viagens oferecidas pela Galp aos secretários de Estado – mas com cuidado, já que houve deputados do PSD em França a convite de empresas - e que a PGR confirmou este sábado que enviou para abertura de inquérito ao DIAP. Mais vale falar de seriedade de uma forma geral. Como em 2014, quando criticou os “privilégios” e a relação demasiado próxima entre política e negócios.

Foram cinco anos a subir ao palco da festa do Pontal, a rentrée política social-democrata, como chefe do Governo, depois de se ter estreado em 2010, como recém-eleito presidente do PSD e ainda na oposição a José Sócrates. O incontornável cheiro do poder fez aumentar as 1600 presenças de 2014 para cerca de 2900 em 2015, a dois meses das legislativas. Este domingo o espaço estará menos composto, mas o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, disse ao PÚBLICO que prepararam o evento para 1600 pessoas – “a média em anos normais” - mas ontem à tarde já havia 2100 inscrições.

Antes de Passos Coelho discursar, pouco antes das 22h, vão falar os líderes regionais: Rui Cristina, presidente da concelhia de Loulé do PSD; Carlos Martins, o presidente da JSD Algarve; e David Santos, presidente do PSD Algarve. Quando o PSD era Governo e tinha um porta-voz, era Marco António Costa que fazia as honras antes de Pedro Passos Coelho. “Na altura fazia sentido ter mais alguém a discursar: não queríamos partidarizar o Governo nem governamentalizar o PSD”, argumenta José Matos Rosa.

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