Associação das agências de viagens sem registo de cancelamentos para a Madeira

Secretário Regional do Turismo aposta na comunicação com o exterior para que impacto no sector não seja significativo. APAVT apela aos associados para que mantenham o esforço de vendas na região autónoma, eleita “Destino Preferido 2016”.

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O Governo Regional da Madeira está a desaconselhar a realização de programas turísticos nas zonas altas AFP PHOTO / HELDER SANTOS

Numa região onde o turismo representa, directamente, cerca de 25% do PIB a aposta é na comunicação. O secretário Regional da Economia, Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, diz que já está a fazer chegar aos operadores turísticos e às embaixadas dos principais países de origem de turistas informação sobre a situação que se vive na Madeira, explicando “que as coisas estão normalizadas”, que “nenhum dos hotéis sofre qualquer ameaça” e que as levadas, veredas e caminhos — um dos principais cartões de visita deste destino — que tenham sido atingidos pelo fogo serão rapidamente limpos para que quem os visita possa disfrutar deles.

Não há registo até agora de cancelamentos de viagens turísticas para a Região Autónoma da Madeira, diz a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) que está a fazer um levantamento junto dos seus associados. É também essa a informação que Eduardo Jesus diz ter, pelos contactos que tem feito: ainda não há desistências.

O assessor da APAVT, Paulo Brehm, nota, contudo, que o levantamento não está fechado. A associação emitiu um comunicado onde apela aos associados para que mantenham o esforço de vendas na região autónoma, que foi eleita “Destino Preferido 2016”. Essa é a melhor forma de minimizar o impacto dos incêndios, afirma. “É uma das formas mais eficazes de solidariedade neste momento, contribuindo de forma efectiva para que a Madeira ultrapasse estes tristes acontecimentos.”

António Trindade, presidente e CEO do grupo Porto Bay, que tem seis unidades hoteleiras na Madeira, onde estão, neste momento, cerca de 1800 hóspedes, diz que também não tem registo de nenhum pedido de saída antecipada. Reconhece que nos próximos dias haverá, certamente, cancelamentos de estadias previstas para o próximo mês. Mas acredita que há factores que minimizarão o impacto dos incêndios dos últimos dias no turismo da Madeira.

Dá um exemplo: “No ano passado tivemos uma taxa de ocupação no grupo de 96,6%. Cerca de 42% dos clientes eram repetentes. Ou seja, temos um nível elevado de fidelização. A Madeira tem, de resto, um índice grande de repetição. E isto significa que as pessoas conhecem o local, que confiam nas informações que lhes são dadas.”

E as informações que estão a ser dadas é que com a excepção do emblemático Choupana Hills, que foi parcialmente destruído pelas chamas, os restantes hotéis não foram danificados pelo fogo. António Trindade diz que os clientes do seu grupo, por exemplo, estão nesta quarta-feira “nas piscinas", "em segurança”, a gozar as suas férias, só não estão “a fazer os passeios, que são a imagem de marca” da Madeira, porque o Governo regional desaconselha as zonas altas que estão ainda ou podem vir a ser afectadas.

“Acredito que a Madeira não vai ter um número muito significativo de cancelamentos, que saberá superar mais esta situação — já tivemos, no passado situações muito gravosas, mais marcantes” como as enxurradas de 2010, diz António Trindade.

Turistas reclamam

O secretário Regional doTurismo tem a mesma convicção. “É natural que venham a surgir alguns cancelamentos, as pessoas são bombardeadas nos seus países com informação que nem sempre é correcta.” Mas acredita que uma boa comunicação do governo, “transparente e correcta”, minimizará o efeito dos fogos.

Na edição desta quarta-feira, o jornal britânico Mirror dava conta de comentários de turistas a reclamar do caos provocado pelos fogos e, no caso dos que já tinham terminado as férias na Madeira, das longas esperas no aeroporto. “Não volto”, dizia um deles.

Eduardo Jesus acredita que não será isso que vai prevalecer. Até a página oficial de Cristiano Ronaldo — “com quem temos uma colaboração” — servirá para passar a mensagem de que se está bem na Madeira.

Nesta quarta-feira o secretário regional visitou durante a tarde o Choupana Hills, uma unidade que, diz, “é perfeitamente recuperável”. Os hóspedes estão já todos alojados noutras unidades hoteleiras com a mesma classificação (cinco estrelas).

Outras quatro unidades hoteleiras foram evacuadas na terça-feira à noite, por causa do fumo à sua volta. Mas a três os hóspedes já puderam regressar — “Uma preparou um pequeno-almoço surpresa, diferente do que habitual”. Os clientes de uma quarta unidade, na Calheta, foram alojados noutras unidades, tal como os do Choupana Hills, “porque ainda existe na proximidade um fogo e o fumo ainda é intenso”.

O secretário regional garante que todos os turistas foram devidamente acompanhados durante a noite. E que houve uma “enorme mobilização” de todos. “Até houve funcionários de hotéis a disponibilizar as suas casas para receber os clientes, o que só é possível num sítio onde o turismo é vivido intensamente.”

2015, “o melhor ano”

Em Maio, último mês para o qual há dados no site da Direcção Regional de Estatística da Madeira, a região registou 674 mil dormidas (contra 596 mil no mesmo mês do ano passado), o que representa 13,4% do total das dormidas ocorridas no território nacional.

No ano passado, a região autónoma recebeu 1,2 milhões de visitantes (que ficam em média 5,4 noites)mais 580 mil dos navios de cruzeiro. “Foi o nosso melhor ano”, diz Eduardo Jesus.

Considerando o alojamento turístico na sua globalidade, o número de dormidas aproximou-se dos 7,1 milhões (mais 7,8% do que em 2014). Os residentes em Portugal contribuíram com cerca de 762,2 mil dormidas, enquanto os estrangeiros não residentes são responsáveis por mais de 6,3 milhões (um aumento de 8,2%). Britânicos, alemães, franceses, holandeses, espanhóis, polacos e dinamarqueses estão entre os que mais procuram o destino.

A embaixada do Reino Unido em Lisboa fez saber, de resto, que, na sequência dos incêndios, enviou dois funcionários para o Funchal para apoiarem os cidadãos britânicos, sobretudo turistas, que se encontrem na ilha.

Também a APAVT, que manifesta “total solidariedade” para com a Madeira, diz que procurou saber se todas as situações com clientes dos seus associados estavam acauteladas, verificando que “toda a assistência possível foi prestada tão rápido quanto possível”. E reforça que tem “total confiança na capacidade do destino, das suas autoridades e do povo madeirense em ultrapassar esta tragédia”.

Zonas altas desaconselhadas

O Governo Regional da Madeira está a desaconselhar a realização de programas turísticos nas zonas altas e serras da ilha. “Atendendo a que a maioria dos percursos pedestres oficialmente homologados e aconselhados aos turistas, na ilha da Madeira, encontram-se em áreas que, neste momento, estão ou poderão vir a ser afectadas, não é aconselhável a realização de programas, desta natureza, nas zonas altas e serras”, refere um comunicado da secretaria Regional do Turismo.

Na mesma nota, citada pela Lusa, este departamento insiste que o “sector turístico regional encontra-se, actualmente, a funcionar com toda a normalidade, estando apenas condicionado no que respeita ao acesso e usufruto das serras e de algumas áreas florestais”.

A secretaria regional, baseando-se em informação da Presidência do Governo Regional e pela Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Sociais, que tutela o Serviço Regional de Protecção Civil, esclarece que “o Aeroporto da Madeira e o Porto do Funchal estão, neste momento, operacionais” e que o “serviço de transporte público, que serve a hotelaria regional, na cidade do Funchal, não foi, para já, afectado”.

O Jardim Botânico da Madeira “Engenheiro Rui Vieira” e os “Teleféricos da Madeira” encontram-se, nesta altura, encerrados, como medida de precaução.

A secretaria regional informa ainda que o ponto de situação acerca das zonas afectadas “estará em actualização permanente, no site oficial do Turismo da Madeira (visitmadeira.pt), em consonância com o Serviço Regional de Protecção Civil da Madeira”.

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