Imperador do Japão indica desejo de abdicar

Akihito diz-se preocupado com o seu estado de saúde e com as dificuldades em "cumprir as obrigações". A abdicação não está prevista na lei e os conservadores no Governo temem outras mudanças na lei da sucessão.

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A comunicação de Akihito foi ouvida nas ruas Kim Kyung-Hoon/Reuters
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Emoção nas ruas de Tóquio Kim Kyung-Hoon/Reuters
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O imperador sugeriu que seja nomeado um regente Kim Kyung-Hoon/Reuters
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O imperador Akihito tem 82 anos Thomas Peter/Reuters (Arquivo)
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Akihito e a mulher, Michiko Itsuo Inouye/Reuters (Arquivo)

O imperador do Japão lançou esta segunda-feira um apelo indirecto para que o deixem abdicar devido ao seu estado de saúde, numa rara comunicação ao país através da televisão. A lei japonesa não permite que Akihito, de 82 anos, ceda o trono ao seu filho mais velho, mas o imperador teme "que se torne cada vez mais difícil" continuar a cumprir as suas obrigações.

"Numa altura em que a minha capacidade física está a decair, preocupa-me que se vá tornando cada vez mais difícil cumprir integralmente as minhas obrigações como símbolo do Estado, tal como fiz até agora", disse Akihito, naquela que foi apenas a sua segunda declaração gravada e transmitida pela televisão desde que sucedeu ao seu pai, o imperador Hirohito, em Janeiro de 1989 – a primeira foi em 2011, após o desastre nuclear em Fukushima.

Ao longo da sua declaração de dez minutos, anunciada na passada sexta-feira e transmitida esta segunda-feira, Akihito não disse explicitamente que pretende abdicar, porque a lei japonesa não contempla essa hipótese – a vontade de abdicar, e a sua manifestação pública, poderiam ser entendidas como uma interferência na política do país.

Como a lei da Casa Imperial não prevê qualquer mecanismo que permita a abdicação, foi o próprio Akihito quem avançou uma possibilidade – a de que seja indicado um regente para o substituir, que neste caso seria o seu filho, o príncipe Naruhito, de 56 anos.

De acordo com as sondagens, a maioria do povo japonês compreende os motivos do imperador e concorda com a abdicação, mas a base conservadora do Partido Liberal Democrata do primeiro-ministro, Shinzo Abe, teme que a discussão sobre a mudança da lei tenha consequências mais vastas – como a pressão para que se torne legal que uma mulher possa vir a assumir o trono, por exemplo.

Apesar da oposição no seu partido, o primeiro-ministro disse que ouviu as palavras do imperador e garantiu que vai levar em consideração os seus argumentos "de forma séria". "Tendo em conta as obrigações do imperador, bem como a sua idade e o peso do seu trabalho, temos de ver com firmeza o que podemos a fazer", reagiu Abe. 

Se Akihito abdicar – nos próximos tempos ou, mais provavelmente, dentro de poucos anos –, será apenas o segundo imperador japonês a abdicar desde 1817, quando Kokaku cedeu o seu lugar no trono do Crisântemo ao seu filho, Ninko.

A comunicação de Akihito ao país surge na semana em que passam 71 anos desde os bombardeamentos norte-americanos em Hiroxima (6 de Agosto de 1945) e Nagasáqui (9 de Agosto de 1945), que fizeram pelo menos 225 mil mortos. O imperador Hirohito, pai de Akihito, viria a anunciar publicamente a rendição do país no dia 15 de Agosto de 1945.

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