Guterres à frente na primeira votação para secretário-geral da ONU

Em segundo ficou o ex-Presidente da Eslovénia, Danilo Turk. A segunda análise das 12 candidaturas, prevista para a próxima quinta-feira, poderá não realizar-se e a questão voltará ao Conselho de Segurança após o Verão.

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UN Photo/Manuel Elias

O ex-primeiro-ministro português António Guterres, de 67 anos, ficou à frente numa primeira votação secreta ocorrida esta quinta-feira entre os 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas para eleger o próximo secretário-geral da organização, disseram fontes diplomáticas à AFP, em Nova Iorque.

Guterres, apurou o PÚBLICO, obteve 12 votos favoráveis, três sem opinião e foi o único dos candidatos que não teve votos contrários.

Em segunda posição, entre os 12 candidatos, metade dos quais mulheres, ficou o antigo Presidente esloveno Danilo Turk, de 64 anos. Além de Guterres, que entre 15 de Junho de 2005 e 31 de Dezembro de 2015 foi alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, apresentaram candidatura a ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Susana Malcorra, 61 anos, a antiga chefe do Governo neozelandês e dirigente do Programa da ONU para o Desenvolvimento, Helen Clark, de 66, e a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros búlgara e directora da UNESCO, Irina Bokova, 63 anos.

Na corrida estão, também, Igor Luksic, antigo primeiro-ministro de Montenegro e Vuk Jeremic, ex-chefe da diplomacia da Sérvia, ambos com 40 anos, Vesna Ousic, antiga vice-Presidente e ministra dos Negócios Estrangeiros da Croácia, Natália Gherman, 47, que foi chefe da diplomacia moldava e o macedónio Srgjam Kirim, de 67 anos, ex-presidente da Assembleia Geral da ONU. Por fim, também a comissária europeia búlgara Kristalina Georgieva, 62, e o antigo chefe da diplomacia da Eslováquia, Miroslav Lajack, 53 anos, afirmaram a sua disponibilidade para suceder no cargo ao actual secretário-geral das Nações unidas, o coreano Ban-Ki-moon.

Lajack recebeu nesta quinta-feira o apoio de Angola, membro não permanente do Conselho de Segurança. "Neste momento podemos apoiar alguns candidatos e acho que ele é um dos bons candidatos. E nesse caso iremos recomendar que, nesta selecção que está sendo feita do primeiro grupo, também se possa ter em conta esta candidatura", disse Georges Chikoti, chefe da diplomacia angolana, durante a visita do dirigente eslovaco a Luanda.

Para a próxima semana, a 28 de Julho, estava previsto que os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU voltassem a votar as candidaturas. Contudo, este calendário não é dado como definitivo. A indicação pelo Conselho de Segurança à Assembleia Geral de um candidato requer, pelo menos, nove votos a favor, incluindo os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança - China, França, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Rússia.

A ficha de voto destas duas votações contempla três formas de classificação das candidaturas, ordenadas com designações peculiares: encorajar (a favor da candidatura), não encorajar (contra), sem opinião.

Até hoje, e nesta fase, nunca houve mais de 12 votos encorajadores, embora o sentido da votação possa vir a ser alterado. Assim aconteceu com o ganês Kofi Annan, secretário-geral da ONU entre 1997 e 2007, que começou o seu trajecto por não ter o voto da França, país membro permanente do Conselho de Segurança, embora Paris tenha vindo a alterar posteriormente a sua posição.

Depois deste resultado, na próxima semana tem inicio uma nova fase no Conselho de Segurança, com as candidaturas pior avaliadas a serem aconselhadas a retirar-se da disputa. “Após a primeira volta é necessário redobrar os esforços diplomáticos”, sintetiza ao PÚBLICO um diplomata.

Finalmente, só depois das férias de Verão, em Setembro, a eleição do novo secretário-geral volta à mesa do Conselho de Segurança, devendo o processo ser dado por concluído em princípios de Outubro. Então, o Conselho de Segurança indicará o candidato para votação dos 193 países membros da organização. Finalmente, o novo secretário-geral assumirá funções a 1 de Janeiro.

Em 12 de Abril foi muito bem recebida a audição de Guterres nas Nações Unidas, uma novidade no processo de eleição, que foi elogiada por vários e influentes media internacionais. A BBC, a agência Reuters, o jornal britânico Guardian e revista Economist destacaram a sua performance.

O perfil que António Guterres desenha para o próximo secretário-geral combina a solidez das convicções com a capacidade de diálogo, para formar a unidade necessária para combater os perigos do tempo actual: o populismo político, o racismo e a xenofobia. Estas posições foram expressas publicamente por Guterres à frente do ACNUR, num momento em que a crise das migrações passou a ser uma questão fulcral da cena política internacional.

A trajectória política e internacional do antigo primeiro-ministro é apresentada como um invejável cartão-de-visita. Como chefe do Governo esteve com o Presidente Jorge Sampaio na foto da fundação, a 17 de Julho de 1996, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Foi, também, sob a presidência europeia de Portugal, com Guterres como primeiro-ministro, que avançaram as cimeiras da União Europeia (UE) com África. Em 31 de Maio de 2000, foi anfitrião do Presidente Bill Clinton na cimeira UE/EUA e na presidência de Lisboa da União teve lugar a primeira cimeira entre a União Europeia e a Índia.

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