Fandango vai ser candidato a Património Imaterial da Humanidade

A candidatura deverá envolver também as comunidades intermunicipais da Lezíria e do Médio Tejo. Numa fase inicial será apresentada à Comissão Nacional da Unesco, que decidirá do seu encaminhamento para análise nesta estrutura da Organização das Nações Unidas.

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Mário Caldeira

A dança tradicional mais representativa do Ribatejo vai ser candidata a Património Imaterial da Humanidade. A preparação da candidatura do “Fandango do Ribatejo” à classificação da Unesco está a ser liderada pela Câmara do Cartaxo e pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR). A dança tradicional mais simbólica e mais típica da região ribatejana tem, no entanto, mais de duas dezenas de variantes. É dançada nos mais diversos pontos do país e, inclusivamente, em regiões de Espanha e no Brasil.

A candidatura, recentemente anunciada na cidade ribatejana do Cartaxo, pretende dar ao Fandango “o reconhecimento que lhe é devido”, enquanto “expressão cultural diferenciadora de uma região, de um povo, única no Mundo”, sublinha o presidente da edilidade cartaxeira, Pedro Magalhães Ribeiro.

“O Fandango, dança de desafio, é a expressão genuína da nossa identidade cultural”, diz Pedro Ribeiro, frisando que todas as oito freguesias do concelho do Cartaxo têm rancho folclórico “com forte expressão na representação do Fandango”. Por isso, o autarca do PS considera que a participação dos ranchos folclóricos locais “será crucial na promoção desta candidatura”.

O anúncio da candidatura foi feito durante uma reunião entre o presidente da ERTAR, Ceia da Silva, e operadores turísticos do concelho do Cartaxo. O processo vai iniciar-se com reuniões entre a Câmara do Cartaxo, a ERTAR, as juntas de freguesia locais, os ranchos folclóricos deste concelho e a Federação de Folclore Português. A candidatura deverá envolver também as comunidades intermunicipais da Lezíria e do Médio Tejo. Numa fase inicial será apresentado à Comissão Nacional da Unesco, que decidirá do seu encaminhamento para análise nesta estrutura da Organização das Nações Unidas.

Nélson Ferrão, investigador e dinamizador cultural ribatejano, sustenta que “o Fandango do Ribatejo não é uma dança só para campinos” e que, actualmente, “existem mais de vinte variantes de fandangos que ora são apenas cantadas ora são tocadas por pífaros, gaitas-de-beiços, guitarras, harmónios, clarinetes, acordeões, e dançadas por mulheres e homens, em pares ou em pequenos grupos de roda”.

Esta diversidade de formas, por vezes pouco conhecida, enriquece o valor cultural do fandango. Desde 1986 que se desenvolvem estudos sobre o fandango no Ribatejo em que Nélson Ferrão tem estado envolvido. O investigador sublinha que se constatou que a música e a dança do Fandango têm evoluído e apresentam muitas novidades, que os estudos mais recentes já confirmaram, mas que a esmagadora maioria da população ainda não conhece bem. “Com o registo de versões em Espanha (onde pode ter tido as suas bases iniciais) e no Brasil (aonde foi bastante disseminado), o Fandango encontra-se em quase todas as províncias de Portugal, através das mais diversas versões musicais e coreográficas. Apesar disso, no Ribatejo, a versão mais conhecida e estilizada é aquela que se denomina por ‘Fandango da Lezíria’, dançada entre dois campinos vestidos com o chamado “fato de gala”. É a mais disseminada e que o turismo tem partilhado mais como a representação e identificação desta região, mas que será a versão mais moderna das várias formas de dançar o Fandango”, explica.

É que, de acordo com Nélson Ferrão, o que se sabe “é que existem, pelo menos, duas dezenas de maneiras de dançar e tocar esta dança, só no Ribatejo, não contando com versões doutras regiões como por exemplo a Beira Baixa (Idanha-a-Nova e outros locais) e o Alto Minho (Seixas)”. Com base na recolha de depoimentos junto dos mais idosos, foi possível, segundo o investigador, “desocultar” muitas versões do Fandango e descobrir variantes pouco conhecidas dos mais interessados por esta temática.

“Com este trabalho e esta difusão do fenómeno do Fandango foi possível tomar consciência da riqueza e diversidade desta dança com as características regionais que lhe passaram a ser reconhecidas, desfazendo as ideias míticas do Fandango ser só dançado por dois campinos, no Ribatejo. Nada mais errado”, sustenta, frisando que é possível ver e ouvir o Fandango só em versão instrumental, a ser dançado em roda e a ser dançado por pares com várias combinações. “Os instrumentos que faziam soar a melodia podem ser também os mais variados – pífaro-de-cana, gaitas-de-beiços, guitarras, harmónios/concertinas, clarinetes, acordeões, violas, bandolins...”, prossegue Nélson Ferrão, que identifica versões diferenciadas do Fandango ribatejano em 21 freguesias dos concelhos de Abrantes, Alcanena, Azambuja, Cartaxo, Constância, Rio Maior, Salvaterra de Magos, Santarém, Tomar e Torres Novas.

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