Nova unidade de Lisboa vai internar jovens longe dos serviços de psiquiatria

A ideia de internar pessoas entre os 15 e os 25 anos com perturbações psicológicas "mais graves" foi aprovada pelo anterior Governo como tendo "carácter de urgência" e está agora em fase de arranque.

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A nova unidade vai ocupar um pavilhão do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Rui Gaudêncio

Seria necessário muito mais para Portugal atingir os minímos recomendados, mas “o esforço muito grande de todos” é importante e de louvar, defendeu o director do Departamento de Psiquiatria da Infância e Juventude do Hospital D. Estefânia em Lisboa, Augusto Carreira, esta quinta-feira, quando confirmou a aprovação do projecto Unidade Partilhada, conhecido por projecto 15-25, para acolher em internamento 20 jovens entre os 15 e os 25 anos com "perturbações psicológicas mais graves".

O projecto resulta de uma parceria entre o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL – antigo Hospital Júlio de Matos) e o Centro Hospitalar Central de Lisboa, que foi aprovado pelo anterior Governo. “É um trabalho conjunto destas duas entidades”, sintetiza o médico responsável ao PÚBLICO.

“Há essa intenção expressa pela tutela e por parte das administrações de ambos os centros hospitalares e tudo se conjuga nesse sentido [de aumentar o número de camas de internamento]. “É uma unidade pioneira porque junta, pela primeira vez, a pedopsiquiatria e a psiquiatria numa faixa etária de transição”, explica o pedopsiquiatra.

Nesta nova unidade haverá 20 camas que deverão estar prontas para internamentos a partir do início de 2017, 10 das quais estão à partida definidas para a pedopsiquiatria. Neste momento, já há médicos – dois psiquiatras e dois pedopsiquiatras – mas faltam enfermeiros. A direcção clinica vai ser partilhada pelo director clínico do Hospital Psiquiátrico de Lisboa, José Salgado, e o director do Departamento de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Augusto Carreira.  São ambos os mentores do projecto, diz. A administração da unidade será igualmente partilhada entre as duas entidades.  

A unidade está pensada para "jovens que não têm respostas adequadas e são internados em serviços de psiquiatria de adultos”, diz. E enfatiza: “É uma urgência nacional porque a carência é gravíssima." O novo espaço de 20 camas vai situar-se no espaço do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (conhecido por Hospital Júlio de Matos) num pavilhão que está a ser adaptado para o efeito, com características específicas para esta unidade, com um espaço para aulas, um espaço multimédia e um jardim exterior, entre outros espaços para outras actividades.

Do tempo do anterior Governo ficou um despacho do então secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, para criar “com carácter de urgência” esta unidade, na sequência do envio do projecto para a Administração Regional de Saúde (ARS) e o Ministério da Saúde. Com a mudança do Governo, o projecto “ficou em espera” e neste momento está em fase de arranque. O orçamento para a criação da unidade foi já aprovado pela Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo.

“Eu esperaria que estivesse pronta no início do próximo ano", explica Augusto Carreira. Com maior atraso está a contratação necessária de enfermeiros – em princípio serão 18 – que podem ou não ter formação em saúde mental. Nas equipas serão também integrados psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas, assistentes operacionais, entre outros profissionais.

Internados em serviços de Psiquiatria

Um documento da ARS formalizava desde 2014 o internamento de jovens a partir dos 15 anos em psiquiatria, com adultos. Era também isso que acontecia antes da publicação desse documento, mas de uma forma informal. “Quando não tínhamos onde internar, andávamos à procura e muitas vezes jovens que deviam ser internados em pedopsiquiatria, eram internados em serviços de psiquiatria", diz Augusto Carreira. É uma ideia terrível que eu tenho combatido. É um risco para os jovens porque têm contacto com doenças crónicas e, por outro lado, podem ser molestados”, acrescenta.

“É um esforço muito grande por parte de todos – profissionais e tutela – que deve ser reconhecido, mas continuamos muito longe do que seria necessário para internamento”, acrescenta. E o necessário, estima Augusto Carreira – não com base em estudos recentes porque não existem mas “extrapolando a realidade de outros países” – seria 60 ou 70 camas no país no mínimo.

Actualmente existem 10 camas no Porto e, já há alguns anos, as 10 camas para internamento no Departamento de Psiquiatria da Infância e Juventude do Hospital da Estefânia, onde está previsto um reforço de seis camas – para totalizar as 16. “Vamos ocupar a ala da maternidade [Magalhães Coutinho] no espaço do Hospital da Estefânia e que foi desmantelada. As obras já estão a começar e espero que este reforço em particular possa estar a funcionar já em Setembro ou Outubro”, diz Augusto Carreira.

Em perspectiva, para a pedopsiquiatria existem 10 (do total de 20 da nova unidade) e mais 10 novas camas em Coimbra, cujas obras estão quase concluídas. Se tudo correr como o previsto, haverá no próximo ano 46 camas disponíveis em pedopisquiatria – um número "ainda muito longe dos ratios minímos" recomendados.

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