Schäuble diz que objectivo das sanções é "incentivar" Portugal a actuar

Ministro das Finanças alemão diz que se Portugal e Espanha "aplicarem rapidamente medidas eficazes" de redução do défice, evitam suspensão dos fundos europeus.

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Wolfgang Schäuble e Mário Centeno assumiram posições diferentes sobre as sanções REUTERS/Francois Lenoir

O ministro das Finanças alemão afirmou esta terça-feira que o objectivo das sanções a Portugal e Espanha, por ausência de medidas eficazes para corrigir os défices, não é "castigar" os países, mas sim "incentivá-los" a actuar.

"Naturalmente tivemos um debate entre os ministros sobre se é inteligente tomar esta decisão no contexto do referendo britânico, mas eu e outros dissemos que era muito importante que as regras europeias se apliquem" porque tal envia a mensagem de que o quadro regulamentar europeu funciona e é implementado, sublinhou Wolfgang Schäuble em conferência de imprensa, após reunião dos ministros das Finanças da União Europeia (Conselho Ecofin).

As regras, disse, incluem "flexibilidade suficiente" e o objectivo da decisão desta terça-feira, que estabelece um prazo de dez dias para que Portugal e Espanha apresentem os seus argumentos e outro de 20 dias para que a Comissão Europeia (CE) recomende ao conselho da UE uma sanção económica e a suspensão "total ou parcial" dos fundos estruturais, não pretende "castigar" os dois países.

"Deseja-se incentivar e evitar incentivos erróneos para que os países actuem e façam o que têm de fazer", segundo estipulam as regras e as recomendações do Conselho da UE para os países em procedimento por défice excessivo, disse.

"Acredito que hoje se tomou a decisão adequada", defendeu Schäuble, que considerou que "o melhor incentivo" para Portugal e Espanha é precisamente conseguir que não se suspendam os compromissos dos fundos estruturais e de investimentos europeus a partir de 1 de Janeiro de 2017.

O titular alemão da pasta das Finanças revelou que os ministros transmitiram aos seus homólogos português, Mário Centeno, e espanhol, Luis de Guindos, que se "aplicarem rapidamente medidas eficazes para encaminhar o desvio do défice já este ano, então será possível levantar a suspensão dos fundos europeus a partir de 2017".

"O risco de que se congelem os compromissos dos fundos destinados ao financiamento de projectos a partir do próximo mês de Janeiro pode ser evitado se, no restante de 2016, forem aplicadas as recomendações do Conselho" para combater o défice. Para Schäuble, o passo dado pelos parceiros na UE a Portugal e Espanha "demonstra que as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento se aplicam realmente". "É importante enviar este sinal de fiabilidade" em relação às regras, sublinhou.

A Comissão tem agora 20 dias para propor o montante das multas, que podem ir até 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Portugal e Espanha, por seu turno, têm um prazo de 10 dias a contar a partir desta terça-feira para apresentar os seus argumentos com vista a uma redução da multa, que, de acordo com as regras europeias, pode ser reduzida mesmo até zero, o que é agora o objectivo dos Governos português e espanhol, como já admitiram em Bruxelas os respetivos ministros das Finanças.

Em reacção, o primeiro-ministro português acusou Wolfgang Schäuble de não contribuir para a credibilidade da União Europeia. “A verdadeira avaliação que foi feita do esforço de Portugal ao longo dos últimos anos foi aquilo que sempre ouvimos a Comissão Europeia, o FMI dizer, o insuspeitíssimo ministro alemão das Finanças dizer, que até apresentava sempre a sua colega portuguesa como um modelo de boa aluna e de empenho no cumprimento das metas. Vemo-lo agora a propor Portugal ser castigado porque o anterior Governo não tomou as medidas necessárias para ter um resultado efectivo, há que perceber que não credibiliza o funcionamento da Europa, descredibiliza bastante o senhor Schäuble e não reforça a confiança dos cidadãos no funcionamento da Zona Euro.”

 

 

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