A lei da irracionalidade

As instituições europeias são cada vez mais incapazes de sair da twilight zone

Tentar encontrar alguma base de racionalidade neste afã das instituições europeias em aplicar sanções a Portugal e Espanha é muito difícil, por mais que se tente. Os mais rigorosos podem argumentar com a necessidade de cumprir os tratados, visto os dois países terem de facto ultrapassado a meta do défice, mas nem esse argumento de autoridade é totalmente válido visto que os incumprimentos já foram mais do que muitos e nem por isso a Comissão accionou o mecanismo sancionatório. Esta omissão iniciou um tratamento discricionário que acaba por retirar aos órgãos comunitários grande parte da credibilidade necessária para justificar as suas decisões. E assim se vai acumulando o capital de queixa de que são feitos os eurocépticos, cada vez em maior número, como se tem visto.

Outros dirão que o facto de nunca ter sido oficialmente aberta a porta à aplicação de sanções, não significa que os prevaricadores devam ficar impunes para sempre. É verdade, não tem de ser assim, mas o que se questiona são as prioridades dos dirigentes europeus. Olhar para a última capa da Economist e ver um autocarro pintado a verde, branco e vermelho em equilíbrio instável à beira de um precipício, anunciando que a Itália - a quarta maior economia europeia, com a banca em colapso, dívida pública gigantesca, baixa produtividade e crescimento débil – será a próxima crise europeia, dá a ideia que, em Bruxelas, há muita gente perdida numa qualquer twilight zone, incapaz de se aperceber da realidade. Como se já não bastasse o brexit, a crise dos refugiados, os sinais dos mercados, o crescimento exponencial das forças anti-europeias… Os problemas vão-se acumulando e as instituições prosseguem a sua fuga para a frente como se nada tivesse acontecido, como se o mundo fosse o mesmo e as pseudo respostas teimosamente ensaiadas fossem as adequadas face ao fracasso que ameaça colapsar a Europa. Nada disto parece racional, mas é incompreensível que assim seja.

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