Michael Matthews estreia-se a vencer no Tour

Australiano da Orica impôs-se ao sprint na 10.ª etapa da Volta a França.

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Michael Matthews a iniciar o sprint KENZO TRIBOUILLARD/AFP

Michael Matthews foi o mais forte na chegada a Revel, na 10.ª etapa da Volta a França. O ciclista da Orica esteve incluído numa fuga com vários corredores rápidos e, no sprint final, superiorizou-se a Peter Sagan e Edvald Boasson Hagen. Aos 25 anos, o australiano estreia-se a vencer no Tour e faz o pleno nas três grandes Voltas - já tinha vencido no Giro e na Vuelta. Peter Sagan chegou à liderança da classificação por pontos e vai vestir de verde na etapa 11. É a 75.ª vez que Sagan veste a camisola verde, em menos de 100 etapas.

O vencedor do dia mostrou-se radiante com a sua primeira vitória no Tour. "É inacreditável", soltou Matthews, antes de acrescentar: "Depois de dois anos maus, ganhei, finalmente, uma etapa da Volta a França. Estive muito perto de desistir, mas hoje os meus sonhos tornaram-se realidade".

Foram 193 os ciclistas que saíram de Escaldes-Engordany, no principado de Andorra, com destino a Revel, no sul de França. Na sexta etapa mais longa do Tour (197 quilómetros), os ciclistas tiveram de passar por uma contagem de montanha de primeira categoria, em Port d’Envalira, logo na parte inicial da etapa. A última passagem do Tour por esta montanha foi em 2009 e Sandy Casar, especialista em fugas, foi o primeiro a passar no topo. No final da tirada, os corredores passaram por uma subida curta, mas suficiente para poder fazer diferenças (dois quilómetros a 6,6% de inclinação).

Esta etapa era ideal para vários tipos de ciclistas. A escalada inicial era dura, mas o facto de estar muito longe da meta permitia que quem ficasse para trás na subida, nomeadamente os sprinters, ainda pudesse “recolar” mais tarde. A montanha de terceira categoria, já bem perto da meta, prometia dificultar a vida a homens como Mark Cavendish ou Marcel Kittel, mas não era longa e inclinada o suficiente para excluir candidatos como Sagan, Van Avermaet, Matthews ou Coquard. Também os puncheurs – corredores rápidos em subidas curtas – como Rui Costa, Alaphilippe ou Gallopin podiam ser incluídos no lote de potenciais vencedores. De resto, o director desportivo da Lampre, antes da etapa, já abria uma janela de oportunidade para Rui Costa: “Já tínhamos combinado que o objectivo era ele conseguir uma vitória em etapa. Anteontem esteve quase. Obviamente que ele hoje está ansioso por mais.”

A etapa começou com muitos ciclistas a tentarem sair do pelotão – Sagan e Rui Costa eram dois dos que mais tentavam, com o eslovaco a encetar ataques sucessivos. O The Telegraph escrevia que Sagan estava “on fire” e que Rui Costa é um “homem valente”. A táctica de Sagan era fácil de entender: ser o primeiro no sprint intermédio, chegando à liderança da classificação por pontos, e estar incluído numa fuga em que fosse um dos mais rápidos, numa eventual chegada ao sprint.

Ao quilómetro 18 - a cinco do topo da primeira subida - Rui Costa conseguiu isolar-se na frente, perseguido por um pequeno grupo que incluía ciclistas como Vincenzo Nibali ou Tom Dumoulin. Rui Costa foi o primeiro a passar na montanha de primeira categoria, somando dez pontos na classificação do “rei da montanha” – será um novo objectivo para o português?

Na descida, com nevoeiro, juntaram-se os fugitivos num só grupo, com o pelotão a menos de um minuto. Vários ciclistas do pelotão tentavam colar-se à fuga.

A 100 quilómetros do fim da etapa, o grupo da frente estava estabilizado em 15 ciclistas. Mikel Landa (Sky), Vincenzo Nibali (Astana), Peter Sagan (Tinkoff), Tony Gallopin (Lotto-Soudal), Rui Costa (Lampre) e Michael Matthews eram alguns dos presentes. No pelotão, a Sky não parecia interessada em trabalhar. Não só tinha Landa na fuga, como nenhum dos fugitivos era uma ameaça à liderança de Froome. Com a passividade do pelotão, a vantagem da fuga já estava nos seis minutos.

A Katusha tentava perseguir, mas desistiu. José Azevedo, director desportivo da equipa russa, chegou a dizer à televisão francesa: “Queremos anular a fuga, mas sozinhos vai ser difícil apanhá-los”.

Chegados ao sprint intermédio, Sagan não deu hipóteses e somou os 20 pontos que lhe permitem vestir a camisola verde, à frente de Cavendish. 

A etapa estava calma, até Sagan decidir mexer na corrida, no grupo da frente. O eslovaco atacou e apenas Samuel Dumoulin, Van Avermaet, Boasson Hagen, Impey, Durbridge e Matthews o acompanharam. Rui Costa, Nibali, Landa, Caruso, Gallopin, Chavanel, Izagirre e Cummings ficaram para trás. A luta pela vitória parecia destinada ao pequeno grupo da frente e começava a luta táctica. Sagan parecia ser o "alvo a abater" e foi atacado pelos companheiros de fuga (com excepção a Van Avermaet, que se mantinha na traseira do grupo).

Destaque para a excelente estratégia da Orica. Daryl Impey, companheiro de Matthews, estava na fuga e fez sucessivos ataques, obrigando Sagan a responder e a desgastar-se. Na recta final, foi Van Avermaet a atacar primeiro, mas foi demasiado cedo. Michael Matthews, outro bom sprinter, saiu da roda de Sagan e desferiu o ataque decisivo. O eslovaco, depois do desgaste nas respostas a Impey, ainda fez segundo, à frente Boasson Hagen.

Na classificação geral, não há alterações significativas. Chris Froome cortou a meta integrado no pelotão, que chegou a quase dez minutos de Matthews, e mantém a camisola amarela. Rui Costa, integrado na fuga inicial, chegou em 11.º lugar, a 3m10s dos homens da frente. Sagan é o novo líder da classificação por pontos, com 38 pontos de vantagem sobre Cavendish. O novo camisola verde mostrou-se satisfeito. "Fiquei em segundo. Estou feliz pelo Michael [Matthews], porque ele venceu a sua primeira etapa aqui. E estou feliz pelos pontos, porque agora tenho a camisola verde", explicou Sagan. 

Texto editado por Nuno Sousa

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