A crise é uma oportunidade

Ao contrário do “mergulho para a piscina da demagogia” do Bloco de Esquerda, não é tempo de incendiar e de ameaçar, mas de serenar, de reflectir, de construir e fazer crescer.

Ninguém razoável e sensato poderá admitir por boa ou por bem a saída do Reino Unido da UE (“Brexit”), na sequência do referendo de 23 de Junho.

Pese embora a sua habitual e salutar autonomia democrática, é mesmo caso para dizer que os britânicos deram um enorme “tiro no pé”.

Como em tudo na vida, convém pensar antes de fazer.

E nalguns casos tem de se pensar muito e no fim do dia não fazer.

Nem dizer, já agora.

Na habitual insensatez da esquerda radical têm de lastimar-se as deploráveis declarações referendárias da coordenadora do Bloco de Esquerda.

Catarina Martins ameaçou uma proposta de referendo à permanência de Portugal na União Europeia (UE) no caso da eventual aplicação de sanções contra Portugal por incumprimento da meta do défice de 2015.

E contra o que chama uma chantagem do directório europeu, faz outra, no fundo saudando a saída do Reino Unido da EU como algo profético.

Só que as coisas mudam-se por dentro e por quem pertence, não por quem se põe fora. Já demos para o peditório dos profetas da desgraça.

A propósito do processo da Europa, convém ainda relembrar que desde há muitos anos que o CDS convoca o legado democrata-cristã de homens de grande visão e humanismo como Jean Monet, Robert Schuman, Konrad Adenauer e Alcide de Gasperi.

E que defende uma política de pequenos passos, assente na vontade dos povos e na preservação das identidades nacionais, recusando à partida a ideia de federalismo europeu e a ideia do directório centralista de Bruxelas, que tudo pretende determinar.

E que denuncia os excessos dos orçamentos das instituições europeias e o sistema de privilégios dos seus funcionários, que acumulam regalias que contrastam com as condições dos restantes trabalhadores europeus.

Mas ao contrário do “mergulho para a piscina da demagogia” do Bloco de Esquerda, não é tempo de incendiar e de ameaçar, mas de serenar, de reflectir, de construir e fazer crescer

Pensar, por exemplo, em que um quinto dos administradores de empresas britânicas pensa deslocalizar parte da actividade para outro país (da EU, naturalmente) e que cerca de dois terços consideram que a escolha de sair da UE é negativa para os negócios (como revelava uma sondagem divulgada esta segunda-feira).

Nesse sentido, António Costa (em modo de Governo de Portugal e não de geringonça) deveria actuar imediatamente e tornar Portugal (mais) útil.

Oferecer rapidamente condições de contexto (v.g., fiscais, laborais e outras) para tornar possível e eficiente essa deslocalização de empresas sediadas no Reino Unido para Portugal e para minimizar todas as “incertezas que pesam sobre as decisões de investimento e travam a criação de empregos", como dizia Carolyn Fairbairn, Directora – Geral da Confederação da Indústria Britânica.

E o Bloco de Esquerda, que, como está visto, anda a leste da realidade, ainda quer ser governo de Portugal?

Não vai porque não terá votos.

Advogado, membro da Comissão Política Nacional do CDS

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