Morte de dois negros às mãos da polícia em 48 horas reacende contestação nos EUA

Uma mulher registou em vídeo os momentos que se seguiram aos tiros sobre Philando Castile. A comunidade afro-americana regressa às ruas.

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Nada na sua linguagem corporal dizia: "Matem-me, eu quero morrer" Sibila Lind, Frederico Batista

A contestação à actuação da polícia nos Estados Unidos subiu novamente de tom depois de, em 48 horas, dois homens negros terem sido mortos por agentes. Na quarta-feira à noite, polícias mataram Philando Castile, que foi atingido com vários tiros quando estava ao volante do seu carro, depois de ter sido parado numa operação stop no Minnesota. Na terça-feira Arlon Sterling foi morto, também a tiro, quando estava a vender CD's em Baton Rouge, capital do estado da Luisiana.

Há registos de vídeo das duas mortes e as suas divulgações agravaram a onda de contestação na comunidade afro-americana que acusa a polícia de abusos raciais.

Philando Castile, a vítima de quarta-feira, foi atingido no momento em que levava as mãos aos bolsos. Foi mandado parar por causa de um farol partido. O vídeo, filmado pela mulher que ia ao seu lado e que se apresenta como sua namorada (e cuja filha, ainda criança, estava no assento de trás do carro), começa pouco depois dos disparos. Nele, Castile surge ensanguentado, perde rapidamente a consciência e, pela janela, vê-se um polícia com a arma em punho.

A namorada de Castile tem vindo a ser identificada pelo nome da conta de Facebook onde o vídeo foi partilhado: Lavish Reynolds. Segundo disse, o polícia disparou várias vezes depois de Castile ter avisado que a sua carta de condução estava na carteira, que, por sua vez, estava no bolso das calças, e que também tinha uma arma consigo. “[O polícia] disparou sem razão aparente, sem razão nenhuma”, afirma Reynolds, no vídeo.

“Ele disse-lhe que [a carta] estava na carteira, mas que tinha uma pistola consigo porque tinha licença de porte de arma”, prossegue Reynolds. “O agente disse-lhe para não se mexer. À medida que ele punha as mãos de volta no volante, o agente disparou contra o seu braço umas quatro ou cinco vezes”, diz a mulher no vídeo, enquanto, no fundo, se ouve a voz do polícia a dizer: “Eu disse-lhe que não a fosse buscar. Eu disse-lhe para pôr as mãos onde eu as visse.”

A polícia do Minnesota diz que está a investigar o caso e que encontrou uma arma ligeira no veículo, mas a onda de contestação já se faz sentir a nível nacional, acicatada pelo vídeo da morte de Arlon Sterling, na terça-feira, que fez eclodir protestos em Baton Rouge. A polícia local também está a investigar o sucedido e diz que tem em conta um possível caso de discriminação racial.

Ainda na noite de quarta-feira, um grupo de manifestantes tentou impedir que polícia rebocasse o carro em que Philando Castile foi atingido. Mais tarde, à saída do hospital, uma representante da NAACP, uma organização que protege os direitos da comunidade afro-americana, sugeriu que há suspeitas de que a morte de Castile, que trabalhava na cantina de uma escola local, tenha sido provocada por questões raciais.

“A família tem uma série de dúvidas sobre o que aconteceu”, afirmou Nekima Levy-Pounds, presidente da NAACP. “Não acreditam que tenha havido justificação para os disparos. Philando Castile era um cidadão exemplar, de acordo com todos os relatos que ouvimos”, concluiu.

A comunidade afro-americana queixa-se de práticas racistas pela polícia nos Estados Unidos, onde o número de homens negros mortos por agentes de segurança supera em muito o de outros grupos da população, e há indícios de comportamentos discriminatórios em esquadras como a de Ferguson, no Missouri, onde em 2014 morreu o jovem Michael Brown, provocando uma grande vaga de contestação nacional sobre o comportamento da polícia norte-americana, acusada de racismo.

O vídeo da morte de Arlon Sterling às mãos da polícia, como os de outros cidadãos negros nos últimos dois anos, reanimou o debate sobre a igualdade racial na América. Um primeiro registo de vídeo mostra Sterling repetidamente atingido enquanto estava manietado no chão por dois polícias, que gritam, a dada altura e quando a vítima estava no chão: “Ele tem uma arma!”.

O dono da loja em cuja porta estava a vender disse aos jornais locais que a polícia retirou do bolso de Sterling uma arma, mas não há qualquer prova em como esta tenha sido apontada à polícia.

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