A miragem de uma estratégia para Sul

Divisões internas e a própria história da NATO têm dificultado o desenvolvimento de um plano para o Médio Oriente e Norte de África.

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Caça francês ao serviço da NATO a ser reabastecido sobre o Mediterrâneo, durnate o período de operação na Líbia em 2011 Reuters

A NATO quer ter uma estratégia para o Sul, para enfrentar os desafios da guerra na Síria e no Iraque, a instabilidade nos países do Médio Oriente e Norte de África, que se reflectem na Europa: atentados terroristas, vagas de refugiados com os quais os países não estão prontos a lidar, e conflitos que parecem infindáveis e ultrapassam tudo o que antes se considerava intolerável em violações de direitos humanos. Mas as divisões internas da NATO não têm tornado fácil pôr em prática essa estratégia, que está também na agenda de Varsóvia.

Após seis meses de discussão, espera-se que na cimeira seja dada luz verde à contribuição da NATO para a luta contra o Estado Islâmico - isto não significa o envio de tropas, mas sim de AWACS, aviões de vigilância usados pela NATO, que voarão nos céus da Turquia e do Mediterrâneo, formando um arco em torno do Iraque, da Síria e da Líbia.

Mas estes aviões podem funcionar também como torres de controlo de tráfego aéreo móveis, pois estão equipados com potentes radares que permitem observar a actividade aérea a quilómetros de distância. São por isso muito úteis para coordenar bombardeamentos e por isso os Estados Unidos queriam utilizá-los na guerra contra o Estado Islâmico. Para isso, no entanto, a organização do Atlântico Norte não chegou a acordo.

A NATO tem de agir por consenso dos 28 membros, está limitada por diferenças entre os seus membros e por tensões entre os países da União Europeia - 22 dos quais fazem parte das duas organizações. França, Itália e Espanha consideram que demasiado envolvimento da Aliança Atlântica se tornaria impopular entre os aliados árabes, e que dificultaria também um possível entendimento com a Rússia sobre a guerra na Síria - que ainda está zangada pela forma como os ocidentais intervieram na Líbia em 2011, através da NATO, para ajudar a derrubar Khadafi -, diz um relatório do think tank espanhol Barcelona Center for International Affairs.

Mais especificamente, França e Itália não querem que a NATO se envolva numa operação na Líbia, e a Alemanha não quer a Aliança numa operação contra o Estado Islâmico. Isto apesar de França e Itália estarem interessadas numa nova estratégia a 360º para a Aliança, que não se concentre apenas na Rússia como única ameaça. No entanto, nenhum dos dois países está a favor “de usar a bandeira da NATO só para dar à Aliança um papel no Sul”, como escreveu Jeff Lightfoot, numa análise para o Centro Brent Scowcroft de Segurança Internacional do Conselho Atlântico, em antevisão da posição francesa para a cimeira de Varsóvia.

Por isso, por ora, a NATO reduz-se a missões de treino e formação em alguns árabes e do Norte de África envolvidos na guerra contra o terrorismo e o Estado Islâmico, como a Jordânia, a Tunísia, e o Iraque. A possibilidade de ajudar o Governo de unidade nacional líbio a construir instituições mantém-se isso mesmo, uma possibilidade.

A NATO colabora nas missões da União Europeia no Mediterrâneo para detectar embarcações com migrantes - Sophia, no Mediterrâneo central, e Active Endeavour, no Mar Egeu. Os seus seis navios de patrulha partilham, em tempo real, a informação que recolhem com o comando das missões, para salvar ou mandar para trás as embarcações com refugiados.

 

 

 

 

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