PJ apreendeu quadros de Paula Rego ao director do Museu da Presidência

Pelo menos uma das obras, um retrato do ex-presidente Jorge Sampaio, foi encontrada na casa de Diogo Gaspar.

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Retrato de Jorge Sampaio, de Paula Rego, no Museu da Presidência Pedro Cunha

A Polícia Judiciária apreendeu vários quadros da pintora Paula Rego ao director do Museu da Presidência, Diogo Gaspar, suspenso de funções e obrigado a pagar uma caução de 50 mil euros no âmbito de um inquérito que investiga 13 crimes, nomeadamente tráfico de influência, peculato e participação económica em negócio. Pelo menos uma das obras, um retrato do ex-presidente Jorge Sampaio, foi encontrada na casa de Diogo Gaspar, em Lisboa, apurou o PÚBLICO.

O director do Museu da Presidência, um historiador de 45 anos, gostava de mostrar a obra aos amigos que o visitavam, a quem garantia que o quadro tinha sido uma oferta da artista. A Polícia Judiciária suspeita, no entanto, que a obra faz parte do espólio do museu, e terá sido apropriada ilicitamente pelo director da instituição, licenciado em História de Arte.

O PÚBLICO tentou questionar o advogado de Diogo Gaspar, Raul Soares da Veiga, sobre estas informações, através de email, telefone e mensagem, não tendo este respondido a nenhuma das solicitações.

Recorde-se que em Março de 2006 o então Presidente da República, Jorge Sampaio, apresentou o seu retrato oficial, pintado por Paula Rego, no Palácio de Belém. Na altura os meios de comunicação social noticiaram que a obra teve várias versões.

Desde então que o Palácio de Belém passou a contar com várias obras de Paula Rego: o retrato oficial que ficou na galeria dos presidentes, uma outra versão que foi doada ao Museu da Presidência, além de oito pinturas de Paula Rego sobre o Ciclo da Vida da Virgem, realizadas para a antiga capela do Palácio de Belém. O conjunto destas obras foi na altura avaliado em dois milhões de euros.

Já na passada sexta-feira o PÚBLICO noticiou que a PJ apreendera móveis antigos, tapeçarias e quadros do espólio do Museu da Presidência da República em casa do director da instituição e de amigos seus.

Detido na quinta-feira, Diogo Gaspar foi suspenso de funções no dia seguinte por decisão da juíza de instrução criminal do processo. O arguido ficou ainda proibido de entrar na Secretaria-Geral da Presidência da República, no Museu da Presidência e no Palácio da Cidadela, em Cascais, além de estar impedido de contactar com funcionários destas instituições.

Num comunicado feito pela juíza de instrução, dá-se conta de que são imputados 13 crimes a Diogo Gaspar: cinco de peculato, quatro de participação económica em negócio, um de tráfico de influência, um de falsificação de documentos, um de abuso de poder e um de peculato de uso. Precisa-se ainda que o director do museu terá 30 dias para pagar a caução.

"Promessa de exercício de influência"

Alguns dos “bens culturais e artísticos”, nas palavras de um comunicado daquela polícia, foram encontrados em pelo menos uma empresa ligada a Diogo Gaspar, que prestaria serviços à Presidência de República e ao respectivo museu. Trata-se de uma firma criada em Julho de 2013 e que está em nome do namorado de Diogo Gaspar, que estagiou nessa altura no museu. As autoridades acreditam que essa empresa, que montava exposições e fazia igualmente o catering de eventos, será de Diogo Gaspar, apesar de formalmente este não integrar os respectivos órgãos sociais.

Diogo Gaspar venderia igualmente a terceiros a sua suposta influência junto de decisores públicos. Isso mesmo se explica numa nota emitida quinta-feira pelo Ministério Público que fala no pedido de benefícios “como contrapartida da promessa de exercício de influência junto de decisores públicos”. No entanto, ninguém quer dizer quem são esses decisores.

Nesta sexta-feira, o advogado de defesa de Diogo Gaspar, Raul Soares da Veiga, atacou a investigação dirigida pelo Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa em colaboração com a Unidade Nacional de Combate à Corrupção. “O que ele me diz é que estas imputações são no essencial deturpações da verdade. São muitas meias verdades e poucas verdades inteiras”, afirmou o advogado aos jornalistas. O defensor disse que estão em causa neste processo “muito poucos bens”, que são propriedade do seu cliente. “Ele comprou certos bens que tinham sido dados para abate na Presidência da República, não tinham interesse nenhum para a Presidência da República. Foram vendidos a um senhor e depois Diogo Gaspar comprou a esse senhor”, acrescentou. Com Ana Henriques

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