Budistas radicais da Birmânia pegam fogo a mais uma mesquita

Há uma semana, os muçulmanos de uma aldeia tiveram de procurar refúgio numa comunidade próxima, em fuga de mais de 200 budistas que incendiavam o seu templo.

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Entre 2012 e 2013, dezenas de mesquitas e casas de muçulmanos foram incendiadas e mais de 200 pessoas foram mortas Soe Zeya Tun/Reuters

Uma multidão armada de “bastões, facas e outras armas” pilhou uma mesquita no Norte da Birmânia antes de lhe pegar fogo, noticiou este sábado o jornal oficial Global New Light. É o segundo ataque contra a minoria muçulmana no espaço de uma semana, depois de dezenas de budistas terem saqueado e destruído a mesquita e a escola dos muçulmanos de uma aldeia do Centro do país, ao mesmo tempo que espancavam um crente.

No último ataque – de uma vaga de violência que dura desde 2012, quando em poucas semanas foram mortas mais de 200 pessoas –, o grupo de aldeões começou por se envolver em confrontos com os polícias que estavam de guarda à mesquita. Depois de pilharem e incendiarem o templo, os atacantes impediram os bombardeiros de chegarem ao local.

“Os problemas começaram porque a mesquita foi construída perto de um pagode [budista]. Quando os budistas descobriram, os habitantes muçulmanos recusaram demolir o edifício”, explicou à AFP um polícia da vila de Hpakant, no estado de Kachin. A situação já está controlada, mas as autoridades não fizeram quaisquer detenções.

“Esta é a pior mensagem possível. O Governo devia era demonstrar que instigar e cometer violência contra minorias religiosas não é aceitável na Birmânia”, afirmou Yanghee Lee, relatora da ONU para os Direitos Humanos na Birmânia, numa crítica à ausência de investigação depois do ataque da semana passada, em Thayel Tha Mein, no estado de Bago.

Sabe-se que mais de 200 budistas incendiaram a mesquita e a escola muçulmana da comunidade de Thayel Tha Mein, enquanto os muçulmanos fugiam para uma aldeia próxima e um deles era espancado pela multidão em fúria. “Um incidente que pode ser visto como um ataque ao passado, ao presente e ao futuro de uma comunidade”, descreveu Yanghee Lee.

As Nações Unidas têm sido muito críticas da inacção do Governo da Nobel da Paz Aung San Suu Kyi para pôr termo à perseguição contra a minoria muçulmana, menos de 5% da população da Birmânia. No último incidente, membros do partido de Suu Kyi (Liga Nacional para a Democracia) estavam na aldeia a tentar mediar a disputa. “Tentámos negociar entre eles para evitar que isto crescesse para um conflito sério, mas ninguém os conseguia travar”, diz Tin Soe, deputado do partido, citado pela Reuters.

“Os atacantes estavam completamente incontrolável”, descreve o jornal Global New Light. “O edifício foi arrasado pela multidão amotinada”.

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