Barragens no coração da Amazónia terão impacto negativo, diz estudo

Ocupações de terras e desflorestação serão alguns dos efeitos do complexo de barragens e centrais hidroeléctricas proposto para a região de Tapajós.

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Licenciamento do projecto foi suspenso em Abril pela agência de ambiente brasileira Lunae Parracho/REUTERS

O complexo de barragens hidroeléctricas que foi proposto para o coração da Amazónia vai provocar uma onda de desflorestação e fazer com que áreas remotas daquela que é a maior floresta tropical do mundo sejam ocupadas pela agricultura, diz um estudo de investigadores brasileiros, publicado esta terça-feira.

Os empresários locais contratados para ajudar na construção do complexo proposto na região de Tapajós podem investir os seus lucros na compra de terras para o cultivo de soja ou a criação de gado, diz o estudo da Universidade Federal do Oeste do Pará, no Brasil. Estas compras de terras vão aumentar a desflorestação, permitindo que os empresários avancem pela selva e colocam em perigo os direitos do povo indígena dos Munduruku que vive nesta região, defende ainda o estudo.

Novos cursos de água e infra-estruturas criadas após a construção das barragens no rio Tapajós vão facilitar a conversão da floresta em plantações, disse Philip Fearnside, professor no Instituto Nacional de Pesquisas do Amazónia e um dos autores do estudo . “Há muita terra na Amazónia que não tem um título legal”, disse o investigador à agência Reuters, acrescentado que isto teria um “tremendo impacto para as pessoas que reivindicam aquelas terras”. Especuladores vão provavelmente ocupar estas terras e proceder ao abate de árvores para reclamar a sua posse, disse. “Os impactos sociais e ambientais serão enormes.”

Os apoiantes da construção do complexo de barragens defendem que a subida do valor das terras vai aumentar a agricultura, criar empregos e fazer disparar as exportações. Com o Brasil a enfrentar uma dura recessão, estes apoiantes defendem que são necessários novos investimentos para aumentar a produção de energia hidroeléctrica e a agricultura. As centrais hidroeléctricas produzem cerca de 80% da energia no Brasil, e os apoiantes da construção deste complexo acreditam que as novas barragens vão ajudar a combater as alterações climáticas produzindo energia renovável.

As barragens vão inundar uma área que é mais ou menos do mesmo tamanho de Nova Iorque (nos EUA), afectando a vida de grupos indígenas e outras comunidades que dependem do rio Tapajós para pescar, diz o estudo. A preocupações com os direitos destes povos indígenas sobre estas terras já levou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) a suspender o licenciamento do complexo de barragens em Abril. Cerca de 150 mil pessoas serão directamente afectadas pelo projecto, referiu à Reuters Juan Doblas, um consultor técnico que participou no estudo. 

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