Alterações viárias em Alcântara deixam oposição muito preocupada

“Vai correr muito mal”, antecipa o social-democrata António Prôa, referindo-se às mudanças que vão ser introduzidas a reboque da criação de um hospital privado no chamado triângulo dourado.

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A ideia da câmara é retirar o trânsito da frente ribeirinha João Silva

São grandes as preocupações dos vereadores da oposição na Câmara de Lisboa com os impactos que vai ter a criação de um hospital em Alcântara, junto à Avenida 24 de Julho. “Vai correr muito mal”, antecipa o social-democrata António Prôa, que considera que esta operação urbanística “do ponto de vista viário é um desastre”.

Em causa está a construção do Hospital CUF Tejo num terreno conhecido como triângulo dourado, que foi alienado pela autarquia no início de 2015 numa controversa hasta pública. Este equipamento vai desenvolver-se em quatro volumes, que terão uma “volumetria total de 10 pisos, dos quais seis são acima e quatro abaixo da cota de soleira”. Com um total de 215 camas, o hospital incluirá 800 lugares de estacionamento, “dos quais 600 de estacionamento privativo e 200 de estacionamento público destinado a residentes”.

De acordo com a proposta que foi aprovada esta quarta-feira em reunião camarária, e que diz respeito ao projecto de arquitectura do hospital, a área sul do terreno (voltada para a Avenida da Índia) “destinar-se-á a áreas verdes de enquadramento, privadas de utilização pública”. No documento diz-se ainda que a intervenção prevê a “requalificação da passagem pedonal inferior sob a linha de Cascais e Avenida Brasília” e “alterações na rede viária”, que não se detalham.

Em declarações ao PÚBLICO, o vereador António Prôa disse ter “as maiores preocupações” com essas alterações, que, segundo diz, serão “muito significativas”. “Do ponto de vista viário é um desastre. É uma solução errada que vai resultar muito mal”, afirma o autarca social-democrata.

O projecto que vai ser concretizado prevê que os carros deixem de poder circular na faixa da Avendia da Índia fronteira ao futuro hospital. Assim, quem vier de Belém terá que entrar na Rua de Cascais e virar à direita na Avenida 24 de Julho, contornando o equipamento de saúde. Já quem vier das Docas de Alcântara deixará de poder virar à direita no final do viaduto, sendo obrigado a seguir em frente.

Segundo António Prôa, a ideia da câmara é retirar o trânsito da frente ribeirinha, encaminhando-o para a Avenida de Ceuta. Numa informação dos serviços municipais anexa à proposta diz-se que “os pressupostos estratégicos” definidos para a zona passam por “eliminar progressivamente o trânsito até ao Cais do Sodré, reduzir o perfil da Avenida da Índia a um único sentido e acomodar duas vias no sentido de saída da cidade (Belém)”.

“Não tenho nada contra a existência do hospital, mas não consigo perceber como se condiciona toda a circulação na Marginal”, afirmou por sua vez o vereador João Gonçalves Pereira. O autarca centrista lembra que está em causa “um eixo principal da cidade” e diz ter “reservas muito grandes” quanto a esta intervenção, que “terá um impacto penalizador”.

Tanto António Prôa como a sua colega de bancada Alexandra Barreiras Duarte se abstiveram na votação desta proposta, enquanto Fernando Seara, também do PSD, votou favoravelmente, ao lado da maioria.  

Já os eleitos do PCP votaram contra. “Há alguns motivos de preocupação, que acompanhamos”, disse ao PÚBLICO João Ferreira, referindo-se às alterações viárias que vão ser introduzidas. Ainda assim, o vereador sublinhou que a sua “divergência” com esta matéria “é de fundo”.

O facto de a câmara ter vendido um terreno no qual estavam instalados serviços municipais, e que o PCP considera que tinha “um valor estratégico”, é um dos problemas apontados pelo autarca. João Ferreira acrescenta que “não é indiferente” que o equipamento que aí vai ser construído seja “mais uma unidade privada de saúde”.

À Lusa, o director municipal de Urbanismo, Jorge Catarino Tavares, falou em “pequenos desvios” e explicou que o objectivo é “evitar que as pessoas entrem no centro da cidade pela frente ribeirinha”, passando “a usar as circulares” da cidade.  

Nesta reunião foi também aprovada, com os votos contra de toda a oposição, uma proposta que prevê a alienação de uma parcela de terreno com 27,15 m2 à sociedade EDIFíCIO 41, responsável pela construção da polémica Torre de Picoas. Essa parcela será alienada, sob a forma de complemento de lote, por um valor próximo de 320 mil euros. A mesma proposta contempla ainda a permuta, “por igualdade de valores”, de duas parcelas de terreno daquela sociedade (que perfazem 205,3 m2) por outras duas que são propriedade da câmara (e que perfazem 183,6 m2).

Igualmente aprovada esta quarta-feira, com os votos contra do PCP e a abstenção do CDS, foi a proposta referente à delimitação da Unidade de Execução da Praça de Espanha.

Todas as decisões acima referidas foram tomadas numa reunião extarordinária da câmara, que decorreu à porta fechada. Isto apesar de no mesmo dia se ter realizado, como acontece na última quarta-feira de cada mês, uma outra reunião, desta feita pública, cuja ordem de trabalhos tinha apenas três pontos.

O PÚBLICO perguntou à câmara quais são os critérios com base nos quais diferentes propostas são agendadas para reuniões privadas ou públicas e porque é que foi convocada uma reunião extraordinária quando já havia uma ordinária agendada para o mesmo dia.  A resposta, transmitida pela assessora de imprensa do presidente Fernando Medina, foi lacónica: “O critério é o da decisão do presidente”.

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