Get control of our lives!

Get control of our lives! Esta foi a questão central no referendo britânico. Uma questão certa e crucial mas que teve, infelizmente, uma resposta errada: regressar às fronteiras nacionais em vez de forçar a mudança imprescindível na União Europeia.

Sim, muitos cidadãos europeus sentem que estão a perder controlo sobre as suas condições e escolhas de vida. O acesso ao emprego para muitos passou a ser uma miragem, os empregos que existem tornam-se mais voláteis e precários, sobre esta areia movediça não é possível fazer projetos de vida e muito menos contribuir para a segurança social coletiva. Esta inquietação aumenta em face da concorrência global, da revolução digital e da pressão migratória proveniente do exterior. E a pressão foi levada ao extremo quando, por escolhas políticas europeias, se impôs uma austeridade míope que tem vindo a asfixiar muitas empresas e empregos viáveis e a destruir parte do rico potencial humano existente na Europa. Em Portugal, sabemos bem o que isto quer dizer.

Mas qual a resposta a dar a tudo isto? Regressar a soluções nacionais ou reforçá-las com melhores soluções construídas à escala europeia e jogando com o peso político da Europa no mundo? Será hoje possível responder à crise dos refugiados pedindo que estes problemas fiquem apenas a cargo dos países por onde eles entram e fechando as fronteiras nacionais em todos os outros? Ou é antes necessário preservar o espaço europeu de mobilidade com um sistema de asilo europeu, uma fronteira externa comum e uma ação comum de estabilização e desenvolvimento nos países de origem? Será que é hoje possível responder às novas ameaças terroristas sem uma ação concertada de meios policiais e judiciais? Será que é hoje possível desativar os focos de conflito que cercam a Europa, sem uma real concertação das capacidades de defesa, de ajuda humanitária e de apoio ao desenvolvimento?

Será que é hoje possível assegurar bons padrões sociais e ambientais nos grandes acordos comerciais e de investimento se os países europeus atuarem em ordem dispersa, em vez de jogarem com o peso económico e político da União Europeia? Será que é hoje possível potenciar as empresas e empregos europeus se eles não puderem contar com um mercado de escala continental, tal como os EUA e a China ou India? Será que é possível combater o flagelo da evasão fiscal sem uma verdadeira coordenação e transparência à escala europeia e internacional?

Será que é possível criar uma base de crescimento com força global se não contarmos com uma moeda própria que nos defenda da pressão do dólar ou renmimbi? A solução não é regressarmos a moedas nacionais, mas antes reformar esta união económica e monetária para pôr em marcha um processo de convergência que permita a todos os seus países investir, criar emprego e sustentar o seu estado social. E isto só pode acontecer se a dotarmos duma união bancária e duma capacidade orçamental.

Nos próximos dias vamos assistir a muitos episódios de política europeia à antiga. Com clubes mais ou menos fechados de alguns Estados-membros a selecionarem prioridades conforme as suas conveniências nacionais: ou segurança, ou refugiados, ou imigração, ou novos acordos comerciais. Há também que mudar a forma de fazer política europeia! Estas escolhas, com profundas implicações para todos cidadãos europeus, tem de passar a ser feitas com o seu envolvimento mais direto e a partir das instituições europeias que existem para os representar democraticamente. O Parlamento Europeu está agora em plena discussão de um novo roteiro para a União Europeia e será bom seguir esta discussão bem de perto!

Vice-presidente do Grupo S&D no Parlamento Europeu e negociadora do Roteiro Europeu

 

 

 

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