Intercâmbio de Línguas: aprender um idioma em troca de outro idioma

Todas as semanas há três encontros do grupo de intercâmbio de línguas no Porto. Actualmente é possível aprender português, francês e italiano, mas a ideia é alargar a outros idiomas.

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Os encontros do intercâmbio de línguas são na Casa da Horta e começam sempre às 19h30 Fernando Veludo/nfactos

Aprender uma língua nova é um processo que exige disponibilidade e investimento de tempo. O sucesso na aprendizagem poderá ser mais ou menos rápido, dependendo do nível de compromisso de cada um. Há quem acredite existir uma predisposição natural e uma maior facilidade para aprender novos idiomas. Na Casa da Horta, no Porto, considera-se que a melhor via é proporcionar um ambiente informal e de convívio entre os que aparecem semanalmente nas sessões de intercâmbio de idiomas. Há três encontros semanais para três línguas diferentes: português, francês e italiano. Mas, a ideia é crescer e alargar a outras. O PÚBLICO foi conhecer a iniciativa e visitou as sessões de italiano.

No interior do espaço troca-se a música ambiente do throat singing, da Tuva, pela canção de intervenção italiana de Fabrizio De André. Cerca de 10 pessoas juntam-se à volta de uma série de mesas encostadas e ouvem-se vários idiomas distintos. A partir do momento em que a sessão começa, o grupo que inclui portugueses, italianos, brasileiros e norte-americanos, troca a língua materna para, durante toda a sessão, se entregar ao italiano.

Para quebrar o gelo, há uma apresentação individual, no melhor ou pior italiano que cada um sabe e consegue. Matteo Corgnati, que conduz a sessão, vai corrigindo alguns erros de forma frásica e ajudando com o vocabulário. A conversa vai fluindo sem grandes limites para que cada um possa exercitar a língua, mas também para que o ambiente se torne mais descontraído. Após esta fase preliminar sobe o grau de dificuldade. É lançada a proposta para se jogar ao Tabu. O grupo divide-se em dois. São distribuídas cartas a cada um dos participantes com uma palavra que terá de ser adivinhada pelos parceiros de jogo. Para que os colegas possam adivinhar, são lançadas pistas, recorrendo a outras palavras. No entanto, há uma lista de palavras proibidas que não podem ser usadas. Este é um exercício lúdico, considerado por Matteo como uma das formas de, “após tentativa erro”, se adquirir novo vocabulário. Para que isso aconteça, “não se pode ter medo de errar”. No final de cada ronda, são lidas todas as palavras proibidas e explicado o seu significado. Muitas das vezes é necessário recorrer à língua materna dos intervenientes ou ao inglês, por uma questão de falta de vocabulário. Mas essa é também, de acordo com Matteo, uma das formas de se aprender os idiomas dos outros, permitindo “uma troca de conhecimento”, que é o “propósito fundamental” destes encontros.

À vontade com este jogo está Virgínia Rocha, que, apesar do nome, não tem qualquer relação com Portugal, a não ser o facto de viver cá. Em Outubro do ano passado trocou o Iowa, nos Estados Unidos, por São Romão do Coronado, na Trofa, de onde vem todas as terças-feiras para participar nas sessões de intercâmbio de línguas de italiano. Ainda que não fale português, articula o italiano sem grandes dificuldades. Virgínia foi pela primeira vez a Itália em 1992, onde esteve uns meses, e sentiu-se “em casa”. Desde sempre diz ter sentido “uma afinidade” com a língua e por isso decidiu aprendê-la no país onde ela é falada. Depois de ter voltado aos Estados Unidos, entre uma passagem pelo Japão, regressou a Itália para ensinar inglês. Esta última estadia durou quatro anos. Agora em Portugal, reformada, frequenta as sessões, que descobriu em Dezembro de 2015, para exercitar a língua e também para “fazer novos amigos”. Virgínia, que ainda se está “a ambientar a Portugal”, entende que estes encontros semanais são também uma oportunidade para sociabilizar: “Todas as semanas aparecem pessoas novas e de todas as idades. Regra geral o ambiente é muito descontraído e amistoso”.

A mesma afinidade com a língua tem Margarida Carvalho. Portuguesa, esteve em Milão a estudar no primeiro ano de doutoramento em matemática, onde diz ter passado “os melhores anos” da sua vida. Só recentemente começou a frequentar as sessões do intercâmbio, também por sentir uma relação especial com o italiano mas, sobretudo, para poder “alargar o vocabulário e não esquecer a língua”.

Embora a maior parte dos participantes tenha já à partida uma relação com o idioma, o intercâmbio “é aberto a toda a gente”, sublinha Matteo Corgnati. Quando começou a monitorizar as sessões de italiano, em Março de 2015, após se ter mudado do Torino para o Porto, ao abrigo do programa Serviço Voluntário Europeu, tentou adaptar as lições a “todos os níveis de falantes”, desde os que estão no nível zero até aos que já dominam a língua. A lógica diz ser “aproveitar o que cada um sabe para ensinar ao outro e assim se ir crescendo um pouco de cada vez todas as semanas”. Matteo sublinha que o que o motiva é precisamente o poder acompanhar esse crescimento, mas também o convívio que se proporciona: “normalmente há quem fique mais um pouco depois das sessões terminarem e alguns acabam por jantar por cá”. Algo que não é obrigatório, até porque “os encontros são gratuitos”. O dinamizador dos encontros de italiano, que acabou o voluntariado há três meses, mas decidiu permanecer no Porto, frequenta ele mesmo as sessões de português, no sentido de melhorar o idioma, já que tenciona “ir ficando por cá”.

Além do italiano, às terças-feiras, há sessões de francês às quartas e de português às quintas. Nas sessões de italiano e francês. o número de participantes ronda as quinze pessoas. A de português, segundo Matteo, pode chegar às trinta, consequência do número crescente de estrangeiros a viver no Porto. Actualmente há apenas três línguas disponíveis, embora o objectivo seja alargar a outras idiomas. No entanto, esta questão, “está sempre dependente da disponibilidade de potenciais novos monitores”. Os encontros são na Casa da Horta e começam sempre às 19h30.

O intercâmbio de línguas consiste na partilha e troca de conhecimentos entre, pelo menos, duas pessoas sobre a língua materna de cada um. Apesar de não ser um fenómeno recente, começou a ganhar mais popularidade na última década, com o surgimento de vários grupos nas principais cidades europeias.     

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