O horário dos exames está desajustado dos ciclos do sono?

A tese é de uma investigadora da Universidade de Aveiro, segundo a qual os horários actuais comprometem o rendimento escolar.

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Para a investigadora da Universidade de Aveiro, os alunos mais velhos deveriam realizar exames da parte da tarde Nélson Garrido

Um estudo da Universidade de Aveiro divulgado nesta quinta-feira conclui que os exames nacionais deveriam começar apenas a partir das 10h30 e os horários das aulas deviam ser ajustados, para melhorar o rendimento escolar.

"O conhecimento científico sobre o sono permite afirmar com segurança que os exames para alunos que já entraram na puberdade não se devem iniciar logo nas primeiras horas da manhã. Estes poderiam e deveriam começar a partir das 10h30, e não antes, no caso de exames de uma hora e meia, acrescidos de tolerância para estudantes com necessidades educativas especiais", conclui Ana Allen Gomes, investigadora do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.

Psicóloga e especialista em distúrbios do sono, Ana Allen Gomes aponta igualmente para o desajuste dos horários escolares, a partir do 2.º ciclo do ensino básico (CEB), com aulas a começarem cedo "em contradição com aquilo que é a tendência oposta na puberdade, período onde a fisiologia humana impele os adolescentes a deitarem-se e a acordarem mais tarde".

Autora principal de um estudo sobre o horário e a duração do sono das crianças portuguesas, a investigadora garante que, apesar de estas dormirem um número de horas recomendado, estão no limite mínimo.

Ana Allen Gomes questiona que exista "evidência científica suficiente que sustente o favorecimento de provas ao início da manhã, como em geral sucede".

O que é indicado é que a marcação de exames deveria, a partir da adolescência, recair no período da tarde, com início às 15h, o que dará a adolescentes e jovens adultos "mais oportunidades de obter uma duração de sono adequada na véspera do exame".

Da mesma forma, e em relação aos horários escolares, Ana Allen Gomes considera que "deixam de estar ajustados" pelo menos a partir do 2.º ciclo do ensino básico: "Não se compreende por que motivo, à medida que a criança se torna mais velha e se aproxima da puberdade, os horários escolares se iniciem mais cedo, o que está em contradição com aquilo que é a tendência oposta com a entrada na puberdade, que é a de atraso [deslocação para mais tarde] do sistema circadiano, como é exemplo o ritmo sono-vigília, com tendência para o adolescente se deitar e levantar mais tarde", diz.

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