Um inquérito não inviabiliza a auditoria

Uma auditoria forense pedida pelo BE não é incompatível com o inquérito proposto pelo PSD.

Numa coisa a direita e a esquerda parecem concordar. A direita e, pelo menos, alguma esquerda. Há perguntas sobre o passado da Caixa Geral de Depósitos (CGD) para as quais neste momento não existem respostas. E há suspeitas para as quais faltam esclarecimentos. A forma de obter essas respostas e esses esclarecimentos é que, aparentemente, separa os diferentes grupos parlamentares. O PSD, no último debate quinzenal, avançou com uma solução mais ou menos óbvia, ou seja, com uma comissão parlamentar de inquérito potestativa, o que dispensa à partida o apoio de outros grupos parlamentares. O CDS juntou-se aos sociais-democratas, mas o Bloco de Esquerda, que também tem muitas perguntas sem resposta sobre a Caixa, prefere um caminho diferente: vai apresentar no Parlamento um projecto de resolução para que o Ministério das Finanças peça a realização de uma auditoria forense aos créditos de alto risco que a Caixa concedeu desde 1996.

Neste jogo de xadrez político, o PCP colocou-se de fora com o argumento coxo de que um inquérito à Caixa poderá colocar em causa a natureza pública do banco. E os socialistas estão numa posição aparentemente envergonhada, colocando-se à defesa em relação ao inquérito proposto à sua direita e à auditoria sugerida à sua esquerda.

Mas PSD e Bloco estão a encarar um e outro instrumento como se fossem incompatíveis ou mutuamente exclusivos, quando não o são. Aliás, faz todo o sentido a proposta de uma auditoria forense aos créditos de alto risco que a Caixa deu e fará ainda mais sentido enviar as suas conclusões para o Parlamento, para a tal comissão de inquérito, para que os deputados possam tirar todas as ilações políticas e legislativas, se for o caso. Uma auditoria sem apreciação parlamentar pode ser inconsequente, e uma comissão parlamentar sem uma auditoria será com certeza menos produtiva e eficaz.

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