Muitos infectados com VIH não estão a ser tratados

Investigadores não conseguiram perceber por que razão há milhares de doentes que não estão a fazer a terapêutica anti-retroviral

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Portugal está no grupo de países da Europa com a estimativa mais elevada de novas infecções em 2015 DR

Em Portugal, há uma fatia significativa de pessoas infectadas com VIH que não estão a ser tratadas com terapêutica anti-retroviral. No capítulo em que se analisa o acesso ao medicamento, que este ano é dedicado ao tratamento de VIH/sida, os investigadores do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS)  acentuam que a proporção de infectados que não têm tratamento com terapêutica anti-retroviral em Portugal é muito elevada (17,2%, o correspondente a 4575 pessoas), superior à que se encontra noutros países europeus.

Além disso, em 2014, dos 30 956 casos de pessoas infectadas por VIH que estavam em seguimento no Serviço Nacional de Saúde, não havia dados disponíveis sobre a terapêutica anti-retroviral combinada e avaliação virológica em relação a 4 376, acrescentam. Sem informação disponível sobre a proporção de pessoas infectadas pelo VIH elegíveis para terapêutica antirretroviral e que não a recebem, não foi possível perceber por que razão é que há tantas pessoas sem tratamento. 

Os investigadores solicitaram informação à Direcção-Geral da Saúde, sem sucesso. Os investigadores especulam que isto acontece por abandono da terapêutica devido aos efeitos secundários dos medicamentos, ou a patologias como o alcoolismo e a toxicodependência, ou porque os doentes morreram ou emigraram. Sem resposta para estas questões, concluem, “apenas podemos constatar que ainda há um caminho a percorrer ao nível da vigilância epidemiológica da infecção por VIH/sida em Portugal”.

No entanto, os autores do relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde constataram que nos últimos cinco anos se observou um aumento constante da dispensa de medicamentos anti-retrovirais em Portugal. De 25,2 milhões de unidades em 2010, passou-se para 28,5 milhões de unidades em 2014, um aumento superior a 13%, observam. Estes fármacos representam, aliás, mais de um quinto da despesa global com medicamentos em 2015.

Os investigadores debruçam-se ainda sobre as questões relacionadas com a problemática da adesão à terapêutica anti-retroviral (cuja distribuição tem estado restrita à farmácia hospitalar, mas recentemente arrancaram experiências-piloto para entrega também nas farmácias comunitárias) e destacam, a propósito, a importância de alargar também esta possibilidade aos medicamentos oncológicos.

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