Congresso do PS: o dia seguinte

Que papel para todos os que querem assumir o PS como o partido reformador e moderado?

O Partido Socialista realizou, no último fim-de-semana, o seu congresso nacional. Foi um congresso inabitual, talvez só se comparado ao de setembro de 1983.

Os congressos, com a eleição antecipada dos lideres e com a “aparelhização” das escolhas dos candidatos a delegados deixaram de ser espaços de debate radical, momentos de confronto sadio, espaços de acertos e desacertos que transportavam, para os cidadãos, uma certa dose de dúvida sobre o resultado.

O Partido Socialista foi o criador da eleição direta do secretário-geral e, com essa invenção, fez abalar o espírito criativo das reuniões magnas. Talvez fosse interessante voltarmos a ponderar o tempo passado, quando os congressos eram congressos.

O que se retirou do pavilhão da FIL? Três coisas simples. A primeira, que poucos terão identificado, foi a separação entre partido e governo. Para além do líder, só mesmo Pedro Nuno Santos ocupou espaço central. Costa entendeu dizer que já está num outro patamar – o tempo posterior à função de primeiro-ministro. A segunda, que muitos já terão assumido, o tempo da transição. PN Santos e Fernando Medina completaram os campos e revelaram os caminhos. Mesmo que a solução governativa não tenha sucesso e Assis ocupe, por um tempo, a liderança, o PS já deu o salto para uma nova geração. A terceira, aquela que só quem leva muitos anos nisto poderá ter reconhecido, é que os dirigentes sentem a responsabilidade do momento, mas não sentem um enorme compromisso na solução que se vive. Talvez por cansaço, talvez por se constatar a ausência de linhas claras de “mando”, talvez por se estar a viver um tempo diferente de todos os outros em que o PS alcançou o poder depois do cavaquismo.

Em 1983 vivíamos o Bloco Central. O congresso do PS também se confrontava com uma solução governativa pouco convencional, uma aposta que Mário Soares tinha consagrado pela emergência, mas também para o seu objetivo presidencial. O mesmo sentimento se viveu agora, o mesmo emudecer se sentiu. É normal que assim seja, está escrito em todos os manuais que tratam de “teoria hipodérmica” com os avanços que Harold Lassweel lhe consagrou.

Também em 1983 se antecipava a geração da consolidação da democracia. Constâncio, Sampaio e Guterres seguiram-se a partir de 1986. Em 2016 antecipa-se a geração da globalização. Sérgio Sousa Pinto, Pedro Nuno Santos e Fernando Medina. No final da década de 1980 se revelava Jorge Coelho como a força mãe de uma máquina, hoje se consagra Ana Catarina Mendes como a mãe força da mesma máquina.

Que papel para todos os que querem assumir o PS como o partido reformador e moderado? Garantir que todos os que se encaminham para a disputa serão reformadores e moderados, socialistas e sociais-democratas em linha com séculos de um ser português.

O congresso disse-nos que até na leitura da presente fórmula de governo o reformismo e a moderação são uma linha transversal, um traço central. Todo o PS tem essa constatação nas linhas insubstituíveis de cada impressão digital. Nada ter ouvido o cada vez mais imprescindível João Galamba, no seu elitismo abstrato, para podermos traçar o azimute que faz do PS um partido gínglimo.

Deputado e Membro da Comissão Política do PS

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