Lançado crowdfunding para o veleiro científico David Melgueiro

Dinheiro da campanha é para dar início à elaboração dos planos de construção do navio.

Foto
Esboço do veleiro David Melgueiro DR

A Associação David Melgueiro, de Peniche, lançou uma campanha de crowdfunding para angariar dinheiro para a elaboração dos planos de construção de um veleiro destinado a expedições científicas. Este navio pretende, na sua viagem inaugural, homenagear o explorador português David Melgueiro que, segundo certos relatos, terá sido o primeiro a atravessar as águas do Árctico através da Passagem do Nordeste, entre 1660 e 1662.

A campanha de crowdfunding, na plataforma PPL, pretende angariar 22 mil euros para pagarem os planos do veleiro, para depois se dar início ao processo de construção, ao mesmo tempo que divulga o projecto. Lançada a 30 de Maio, a campanha decorre até 28 de Julho e angariou até agora cerca de 245 euros (esta sexta-feira, dia 10 de Junho, à tarde).

O projecto foi apresentado publicamente em 2014 e, segundo as informações divulgadas nessa altura, a construção do veleiro custará entre dois a 2,5 milhões de euros. A ideia foi de José Mesquita, antigo comandante da marinha mercante e de pesca, que criou a Associação David Melgueiro e tem procurado angariar fundos também para a construção do veleiro.

O David Melgueiro destina-se a ficar ao serviço da comunidade científica. “Este veleiro apoiará de forma concreta e sustentável as necessidades das universidades, centros de investigação e formação, escolas e demais entidades nacionais que desenvolvem projectos nestas áreas”, sublinha um comunicado da associação sobre a campanha de crowdfunding. “Os seus baixos custos de operação (cinco a dez vezes inferiores aos de navios convencionais) permitirão a realização de projectos com orçamento menos ambiciosos, como teses de mestrado ou aulas práticas, e também a criação de um Erasmus Científico do Mar, novo conceito na área da formação, com o intercâmbio de jovens cientistas dos vários países europeus, para embarcar em navios oceanográficos similares em diferentes países.”

A Associação David Melgueiro quer começar por recriar a expedição do explorador português no século XVII. Na primeira viagem programada para o David Melgueiro, numa expedição intitulada Marborealis, que durará mais de um ano e meio, o objectivo é também levar cientistas a bordo, que se dedicarão a estudos de oceanografia, meteorologia e das alterações climáticas, além da demonstração dos produtos e inovações da empresas envolvidas na construção do navio.

Quem era o navegador português?

Sabe-se que o navegador nasceu no Porto, em data incerta, e morreu nessa cidade, em 1673. Diz-se que David Melgueiro, ao serviço da Marinha holandesa, partiu do Japão em 1660 ao comando do navio Padre Eterno. Carregado de riquezas orientais, especiarias e passageiros, terá decidido trocar as voltas aos piratas e a outros possíveis ataques no mar vindos de vários países europeus em guerra. Em vez de navegar do Japão para sul, indo até ao cabo da Boa Esperança, na África do Sul, dirigiu-se para norte, até ao estreito de Bering, conhecido na altura por estreito de Anian. Através do estreito de Bering, terá então passado do Pacífico para o oceano Árctico, avistado o arquipélago de Svalbard (hoje, da Noruega), e daí terá descido até ao Atlântico, primeiro até à Holanda, depois já noutro navio até Portugal. Essa rota pelo Árctico junto ao Norte da Sibéria é conhecida como a Passagem Nordeste.

A ter acontecido assim, David Melgueiro foi o primeiro a fazer a travessia da Passagem Nordeste. Mas esse feito é atribuído a outro navegador, o sueco-finlandês Erik Nordenskiöld: considera-se que foi ele quem atravessou, de forma inquestionável, a Passagem do Nordeste mais de 200 anos depois, em 1878.

A ideia de David Melgueiro ter sido o primeiro a aventurar-se pelas águas geladas da Passagem Nordeste terá surgido da seguinte forma: ele terá contado a sua viagem no Porto a um marinheiro francês, que a terá contado a um diplomata e espião francês em Portugal (chamado La Madelène), que por sua vez a terá contado a um ministro francês… Uma descrição dessa viagem encontrava-se na Holanda e na Biblioteca Nacional de França, em Paris, segundo mencionado pelo coronel de engenharia Carlos de Faria e Maia, num artigo de 1941 na Gazeta dos Caminhos de Ferro. Os relatos dizem que essa descrição antiga existe, mas não dizem o que lá está efectivamente escrito.

Será tudo uma lenda? Será facto? Ou um pouco de ambos?

Sugerir correcção
Ler 1 comentários