"Heróis do nosso tempo" vencem Prémio Europeu do Inventor 2016

Cerimónia de entrega do galardão decorreu esta quinta-feira em Lisboa.

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O prémio do público foi atribuído à investigadora Helen Lee, da Universidade de Cambridge DR
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O norte-americano Robert Langer venceu o Prémio na categoria de Países Não Europeus DR
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Alim-Louis Benabid venceu o Prémio na categoria de Investigação DR
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Anton van Zanten venceu o prémio na categoria de Consagração de Carreira DR
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Tue Johannessen e Ulrich Quaade venceram o prémio na categoria de Pequenas e Médias Empresas DR
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Bernhard Gleich and Jürgen Weizenecker venceram o prémio na categoria Indústria DR
Prémio da Ciência Viva foi ganho por escola de Tavira
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Prémio da Ciência Viva foi ganho por escola de Tavira Público/ Arquivo

São os inventores de hoje, os "heróis dos nossos tempos", como lembrou Benoît Battistelli, presidente do Instituto Europeu de Patentes (EPO, na sigla em inglês), no discurso da cerimónia de entrega dos prémios esta quinta-feira em Lisboa. Carlos Moedas, comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, reforçou a mesma ideia lembrando também que "é preciso celebrar os heróis de hoje". Foram atribuídos cinco prémios, nas categorias de Investigação, Pequenas e Médias Empresas, Indústria, Países Não Europeus e Consagração de Carreira. O prémio do público foi atribuído à investigadora Helen Lee, que criou um kit de diagnóstico rápido, fácil e barato para detectar infecções como a do VIH ou da hepatite B, sobretudo dedicado às populações que vivem nos países mais pobres. 

A edição deste ano tinha 15 finalistas para seis prémios provenientes de 13 países, com invenções em áreas que vão desde a segurança automóvel, à bioquímica, ao ambiente ou à nutrição. Estes conceituados prémios de inovação revelam ao mundo algumas das mais fabulosas invenções de cientistas. Este ano, as criações dos nomeados iam desde a invenção de corações artificiais e medicação que ajuda bebés prematuros a respirar até novas articulações capazes de fazer dançar uma pessoa amputada, passando por transístores de papel feitos em Portugal, novos tratamentos para o cancro ou para doenças como a Parkinson e sistemas capazes de criar uma conectividade wireless mais rápida. De tudo um pouco, portanto.

Dois cientistas portugueses, Elvira Fortunato e Rodrigo Martins, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, econtravam-se entre os finalistas do prémio, na categoria de Investigação, com a já célebre invenção dos transístores de papel que se apresentam como uma alternativa mais acessível e eficiente do que os chips de silício. Porém, o Prémio Europeu do Inventor 2016 nesta categoria foi atribuído ao neurocirurgião e físico Alim-Louis Benadi, da Univerdsidade Joseph Fourier (Grenoble, França), pelo seu novo método de tratamento para doentes de Parkinson. Segundo o comunicado do EPO, o cientista “combinou as suas duas áreas de estudo para desenvolver um método através de impulsos eléctricos de alta frequência para tratar tremores de músculos associados à doença de Parkinson ou a outras doenças neurológicas”. Esta tecnologia de “estimulação profunda do cérebro” permite que pessoas com Parkinson desfrutem de uma vida independente já foi aplicada em mais de 150 mil doentes desde a sua aprovação, adianta ainda o mesmo comunicado.

Finalmente, era também um candidato ao prémio nesta área a invenção de Miroslav Sedlácek, da República Checa, um engenheiro civil que se dedica há vários anos ao estudo do princípio do fluído giratório e que conseguir criar uma pequena e eficiente turbina capaz de produzir energia a partir de riachos, ribeiras e marés com correntes fracas. “Cada uma das suas pequenas turbinas cria energia suficiente para várias casas viverem inteiramente 'fora do sistema' [da eléctrica convencional]”, refere o comunicado de imprensa do EPO.

Prémio Carreira para segurança na estrada

Na edição de 2016 do prémio há mais categorias e finalistas. E vencedores. Na categoria de Indústria venceu Bernahard Gleich e a sua equipa, que conseguiram desenvolver novos métodos de radiologia por partículas magnéticas capazes de obter imagens tridimensionais de cancros e outras doenças. "Gleich e Weizenecker, líderes de uma equipa do Laboratório de Investigação da Philips, em Hamburgo, desenvolveram um método de radiologia baseado em ímanes – em ensaios clínicos desde 2014 –, que pode ajudar os médicos a obter instantaneamente imagens tridimensionais de problemas nos tecidos moles, incluindo o cancro e as doenças vasculares, com um detalhe sem precedentes", revela o comunicado do EPO, que adianta ainda: "A tecnologia permite um mapeamento rápido das vias coronárias e das artérias. Para além de detectar cancros, esta tecnologia pode fornecer imagens durante uma cirurgia, permitindo um feedback em tempo real da manipulação de um implante ou da injecção de drogas." 

Na área da Indústria eram também finalistas equipas de cientistas que conseguiram inventar substitutos do glúten criados a partir do milho e encriptação segura de smart cards.

Na categoria de Pequenas e Médias Empresas estavam projectos como a criação de um novo método para armazenar com segurança a amónia conseguindo neutralizar a poluição de óxido nitroso, o desenvolvimento de kits de diagnóstico baratos e fáceis de usar para detectar doenças como o VIH ou a hepatite B (que se destinam sobretudo a países em desenvolvimento) e a criação de dois dispositivos médicos de ultrassom que medem com segurança a pressão intracraniana. O Prémio Europeu do Inventor 2016 nesta categoria foi atribuído à equipa da Dinamarca que pertence à empresa Amminex, representada por Tue Johannessen, Ulrich Quaade, Claus Hviid Christensen e Jens Kehlet Nørskov, que criou um novo método para armazenar amónia e reduzir a poluição de veículos a diesel.

Porém, a investigadora da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, Helen Lee, que criou os kits de diagnóstico rápido que são comercializados pela empresa Diagnostics for the Real World e que já foram usados em mais de 40 mil pessoas, acabou por vencer o Prémio Europeu do Inventor 2016 atribuído pelo público. Cerca de 56 mil pessoas que votaram online

Nos prémios dedicados a Países Não Europeus estava o biofísico Hugh Herr, dos EUA, que criou articulações para os joelhos que permitem que uma pessoa amputada ande, corra e dance. Na mesma categoria estava ainda o conceituado engenheiro químico e bioquímico Robert Langer, que lidera o maior laboratório de engenharia biomédica do mundo nos EUA, e que foi nomeado pela invenção de uma nova técnica para a medicação anticancerígena que tem efeito localizado. Finalmente, Arogyaswami Paulraj e a sua equipa foram nomeadas pela criação de uma técnica de resulta numa conectividade wireless mais rápida. O Prémio Europeu do Inventor 2016 nesta categoria foi para Robert Langer, que não esteve presente mas participou na cerimónia com uma pequena declaração em directo a partir dos EUA.

"Estou muito honrado pelo prémio, pelo reconhecimento. É muito bom saber que as minhas novas ideias e invenções estão a ajudar pessoas no mundo", disse Robert Langer. Antes, tinha já apresentado as linhas gerais do seu trabalho num vídeo, gastando uma boa parte do tempo para uma mensagem aos "mais novos". "Não desistam de sonhar, não desistam dos vossos sonhos. Mesmo que muitos duvidem do que estão a querer fazer. Façam o que gostam", disse.

O prémio de Consagração de Carreira foi atribuído a Anton van Zanten (Alemanha/Holanda) ,que desenvolveu um controlo electrónico de estabilidade (ESP) dos carros que funciona em silêncio durante a condução e que entra em funcionamento quando necessário. “Há descobertas que podem salvar vidas, mas que são totalmente ignoradas, por vezes até só por uma questão de design”, nota o comunicado, que adianta ainda que “o ESP impediu cerca de 260 mil acidentes na Europa e ocupa o 2º lugar, logo a seguir ao cinto de segurança, no topo dos avanços realizados em termos de segurança automóvel”.

Entre os candidatos estava Alain Carpentier, um cientista francês que criou o primeiro implante auto-regulável de coração artificial, e o físico Tore Cursted, da Suécia, que tinha sido nomeado pelo desenvolvimento de uma medicação que ajuda os bebés prematuros a respirar. “Usada para tratar cerca de três milhões de bebés desde o seu lançamento, o medicamento de Curstedt veio salvar os doentes mais pequenos do mundo”, refere o comunicado do EPO.

Os 15 finalistas foram seleccionados por um júri internacional independente entre cerca de 400 inventores e equipas de inventores propostos para esta edição do prémio. Os finalistas de 2016 são provenientes de 13 países: Bélgica, França, Dinamarca, EUA, Índia, Itália, Holanda, Portugal, Lituânia, Reino Unido, República Checa e Suécia.

"O Prémio Europeu do Inventor revela um diversificado grupo de inventores – homens e mulheres de uma grande variedade de países e disciplinas – cujas inovações tiveram um efeito positivo sobre milhões de vidas", afirmou o presidente do EPO, Benoît Battistelli, na sessão de anúncio dos finalistas em Paris, em Abril. Esta quinta-feira sublinhou que o registo de patentes na Europa aumentou 5% em 2015 (num total de 68 mil patentes concedidas) e voltou a lembrar que "estes inventores" estão a construir hoje o nosso futuro.

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