A opção de Marcelo

O Presidente mantém-se fiel ao seu estilo e é uma decisão acertada.

O quase unanimismo sobre o exercício presidencial foi ontem quebrado com as posições que o chefe de Estado tomou quanto a algumas matérias do pacote legislativo que estava para apreciação em Belém. Antes de qualquer juízo de valor sobre as decisões tomadas, mas tendo, obviamente, esse juízo como pressuposto, o que sobressai de muitas críticas é o regresso ao estafado ataque ao “estilo” do Presidente. Ora porque não consegue despir o fato de comentador político, ora porque analisa os diplomas do ponto de vista do professor de Direito que faz anotações para os seus alunos, a acção do PR não escapa ao exame minucioso dos seus detractores. Que neste particular se esquecem de um dado muito objectivo: Marcelo foi eleito por ser Marcelo, a visita lá de casa que a generalidade dos portugueses acha que conhece bem e que talvez por isso exaltam tanto as suas qualidades quanto são benevolentes com os seus defeitos. Daí ser insensata qualquer transformação no sentido de perverter aquilo que o eleitorado mais valoriza no actual chefe de Estado, que é essa sua capacidade de dessacralizar o poder, aproximando-se das pessoas e dando-lhes esse conforto de se sentirem entre iguais. A direita não tem dado sinais de particular entusiasmo com a prática presidencial, sobretudo devido à estreita cooperação entre Belém e S. Bento, mas ressalvando as devidas distâncias relativamente às duas personagens, Cavaco e Sócrates também tiveram um início promissor.

É, portanto, correcta a opção de Marcelo em não alinhar em mudanças artificiais, mantendo-se fiel ao seu estilo… e ao seu guião. Imbuído do objectivo desdramatizar, deixa passar a lei das 35 horas, mas mantém o Governo sob vigilância. Afinal, um Presidente professor de Direito tem a obrigação acrescida de fazer respeitar as leis, neste caso da norma-travão que impede o aumento de despesa. Quanto às “barrigas de aluguer” o veto é despido de preconceito e funda-se no superior interesse da criança. PS e BE já admitem mudar a lei. Significativo.

 

 

  

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