A procura de um novo Presidente alemão cria mais um problema eleitoral a Merkel

Joachim Gauck não se recandidata. A procura de um candidato pode fracturar a coligação da chanceler. A corrida pode moldar as legislativas e 2017.

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O Presidente Gauck diz não ter "energia e vitalidade" para um segundo mandato CHRISTOF STACHE/AFP

O Presidente alemão, Joachim Gauck, anunciou esta segunda-feira que não vai concorrer a um segundo mandato, dando início a uma busca pelo seu sucessor e complicando a equação eleitoral da chanceler Angela Merkel a quinze meses das legislativas de 2017.

“Decidi não ser por uma segunda vez candidato ao cargo de Presidente”, declarou o popular chefe de Estado, protestante de 76 anos e antiga figura da oposição na ex-República Democrática Alemã, explicando que a idade avançada não lhe garante mais “a energia e vitalidade” necessárias para o mandato.

Se, por um lado, o cargo é sobretudo honorário — entre o papel de autoridade moral e de representação no estrangeiro —, Gauck, eleito em 2012 para um mandato de cinco anos, não hesitou pronunciar-se sobre política doméstica, apoiando a política de acolhimento de refugiados e mencionando as responsabilidades históricas do país.

Ao oficializar a decisão, passados vários dias de especulação na imprensa alemã, Gauck abre o caminho para uma Assembleia Federal incerta, onde deputados e representantes dos estados regionais vão eleger o seu sucessor em Fevereiro próximo.

Mas nenhum partido tem a maioria absoluta necessária para impor a sua vontade nas duas primeiras rondas de votação, dada a lógica de proporcionalidade. Só à terceira ronda é que uma maioria simples será suficiente.

A votação implicará uma “confrontação precoce” no interior da coligação governamental — conservadores da CDU, de Merkel; os seu partido-irmão na Baviera, a CSU; e os sociais-democratas do SPD — que “a chanceler teria preferido de bom-grado que não existisse”, como explicava no domingo a edição online da revista Der Spiegel.

Contexto tumultuoso

Os partidos estão já a pôr-se na ordem de batalha que antecipa as eleições legislativas do Outono de 2017, para as quais Angela Merkel não anunciou ainda as suas intenções. A eleição do Presidente deve servir como “balão de ensaio” para as novas eleições, como escreve o diário berlinense Tagesspiegel.

Especialmente visto que não existe nenhuma figura interpartidária evidente. Mesmo antes do anúncio de Gauck, o debate sobre o seu sucessor agitava um contexto político já tumultuoso, que contrasta com a atmosfera de consenso que Merkel parece ter conseguido impor ao longo dos seus dez anos no poder, celebrados no último Outono.

Gauck argumentou durante o seu anúncio que uma mudança de Presidente faz parte da “normalidade democrática, mesmo num período exigente e difícil”.

Nos últimos meses, graças ao fluxo do ano passado de mais de um milhão de requerentes de asilo na Alemanha, o idílio entre o partido conservador da chanceler e os seus aliados bávaros da CSU ensombrou-se, enquanto os sociais-democratas do SPD se afundaram nas sondagens, pagando o preço por assumir a mesma linha centrista de Merkel.

Dificuldade suplementar para a chanceler: Merkel não pode ficar fora do jogo, argumenta a Spiegel, já que a sua família política espera que “ela escolha o seu próprio candidato” ao posto de chefe de Estado.

“Negra esverdeada”?

Entre os nomes que circulam na imprensa alemã figuram duas personalidades da CDU. O presidente da câmara baixa do Parlamento, Norbert Lammert, de 67 anos; e o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, 73 anos, veterano da política, dotado de grande liberdade de expressão e figura célebre pela sua intransigência em relação à crise grega.

Os sociais-democratas podem por sua vez designar o ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, 60 anos, cuja eleição parece contudo excluída, já que se teria de unir a oposição de esquerda ou então conseguir todos os votos conservadores.

Mais do que sobre as personalidades em jogo, as atenções devem focar-se nos jogos da coligação, num momento em que dois fenómenos fragilizam “a grande coligação” entre a CDU e o SPD: a força da Alternativa para a Alemanha (AfD), que desafia os partidos tradicionais; e a tentação do SPD em se refundar como um partido de oposição, para evitar diluir-se na linha governamental.

Merkel, por sua vez, quererá satisfazer o partido-irmão na Baviera, que se opõe determinantemente à sua política de acolhimento de refugiados.

No jogo dos prognósticos existe uma eventual coligação “negra esverdeada”, que juntaria conservadores e ecologistas e agarra já a atenção dos media. Inédito ao nível federal, essa ligação existe em dois governos regionais. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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