Maduro denuncia conspiração internacional para derrubar o seu Governo

Oposição sai à rua esta quarta-feira para enfrentar o chavismo.

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Maduro denunciou, uma vez mais, uma conspiração para derrubar o Governo venezuelano Carlos Garcia / Reuters

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou a imprensa ao palácio de Miraflores para denunciar uma alegada “conspiração internacional” para derrubar o seu Governo, e que se estará a organizar num eixo que liga Madrid, em Espanha, a Miami, nos Estados Unidos, e Washington — o epicentro de uma suposta campanha mediática e política “brutal”, desenhada para promover a instabilidade e “criar um cenário violência generalizada para justificar uma intervenção de carácter militar”.

Mas o Governo está já a preparar a contra-ofensiva para responder às “ameaças” e “agressões” que tem sofrido, a nível interno e do exterior, garantiu o Presidente venezuelano, que nos últimos dias estendeu o estado de excepção e emergência económica no país, e colocou as Forças Armadas em estado de prontidão.

Para a oposição, chegará o momento em que os militares terão de escolher entre a Constituição e o Presidente. “Não é tempo de traidores; é tempo de lealdade e amor pelo povo. Faço uma chamada à consciência e à união da pátria, à união de todas as Forças Armadas Bolivarianas e à união cívico-militar para consolidar a paz”, reagiu o Presidente.

Maduro não se referiu à chegada ao país do antigo presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, o último líder estrangeiro a aterrar na Venezuela para mais uma tentativa de mediação da crise política entre Governo e oposição, em nome da comunidade internacional. Mas comentou a “avalanche de ataques” vindos de Madrid, lendo uma série de títulos da imprensa espanhola que provam uma alegada “obsessão” em denegrir o Governo de Caracas. “Mas será que em Espanha não há problemas? Porventura Espanha é algum paraíso?”, perguntou, insinuando uma ligação e conivência entre os “estúpidos oligarcas” que detém títulos castelhanos ou norte-americanos e a oposição venezuelana.

“Toda esta campanha internacional é reveladora dos planos que se estão a organizar contra a Venezuela. É esta a forma de actuar das oligarquias. Mas quando nos atacam desde o império, nós pomo-nos brutos”, ripostou.

O Presidente também não mencionou o protesto convocado pela Mesa da Unidade Democrática, a plataforma que reúne os mais diversos partidos de oposição e domina agora a Assembleia Nacional, para esta quarta-feira: uma grande marcha até à sede do Conselho Nacional Eleitoral, no centro de Caracas, onde está a decorrer o processo de verificação das mais de 1,8 milhões de assinaturas recolhidas para forçar a realização de um referendo para revogar o mandato do Presidente. Mas Maduro falou sobre a iniciativa da MUD, que garantiu não ser “viável”. “A oposição quer um golpe de Estado, a intervenção estrangeira e a guerra económica”, interpretou.

O presidente da câmara da capital do país, Jorge Rodríguez, prometeu impedir os manifestantes de chegar ao centro da cidade. As suas declarações foram ambíguas, mas chegaram para evocar o fantasma das medidas tomadas para reprimir os protestos de rua de 2014: entre Fevereiro e Junho, as manifestações na região metropolitana fizeram 43 mortos e mais de mil feridos. Com a oposição ao ataque na rua, e o “oficialismo” acossado, a testar os seus limites, nunca se sabe de onde virá a gota que fará transbordar o copo dos venezuelanos.

A iminência de uma explosão de violência nas ruas tem sido apontada, em alertas cada vez mais dramáticos, pelos observadores internacionais e os políticos da oposição. “Este país está a desmoronar-se e não há soluções governamentais à vista. O Presidente é incapaz de garantir o básico: luz, água, alimentos, medicamentos. É urgente construir uma alternativa para resgatar o país, e isso tem de ser feito através do voto. Só que o Governo está a forçar um desenlace com o sangue do povo. Não queremos a violência, mas Maduro apela à lei da selva”, disse o secretário-geral da MUD, Jesús Torrealba, ao El País.

Notícia corrigida às 11h30 de 18/5: corrigiu-se o número de mortos de 423 para 43.

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