Banco BIG arranca com operação em Moçambique

O ritmo de construção dos grandes projectos do gás em Moçambique, onde o BIG vai estar direccionado para o segmento institucional e de corporate e o retalho especializado, não é posto em causa pelo actual momento que o país atravessa.

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Moçambique é a primeira experiência internacional da instituição liderada por Carlos Rodrigues PÚBLICO/Arquivo

O Banco de Investimento Global (BIG) oficializou, nesta quarta-feira, o início da actividade bancária em Moçambique, onde está a operar desde Março deste ano. Trata-se da primeira experiência internacional da instituição liderada por Carlos Rodrigues, que esteve esta semana em Maputo, onde manteve contactos ao mais alto nível com as autoridades moçambicanas, com investidores institucionais e elementos do grupo de financiadores do Orçamento do Estado de Moçambique.

Moçambique tem sido um mercado de destino de muitas empresas e portugueses, nomeadamente depois de 2010, na sequência da crise financeira e económica. Os investimentos nacionais naquele país (onde vivem cerca de 23 mil portugueses) atingiam em 2014 quase 360 milhões de dólares (quase o dobro dos 171 milhões registados em 2013). 

Hoje, às tensões políticas (confronto entre o Governo e a Renamo, na oposição), soma-se um quadro de contracção marcado pela desvalorização cambial, pela queda do investimento directo estrangeiro, pela redução dos preços das commodities, como o carvão e o gás, e pela revelação de dívidas oculta nas contas públicas (que levou os doadores a suspenderem a ajuda internacional ao país). O cenário levou muitas empresas a ajustarem a sua presença naquele território.

Num encontro com investidores institucionais, que esta semana decorreu na capital moçambicana, Carlos Rodrigues classificou o contexto macroeconómico e político moçambicano como sendo um "acidente de percurso". Uma observação que não é alheia às perspectivas abertas pela exploração de recursos minerais e que já deram ao país o estatuto de grande produtor, designadamente de carvão, de energia eléctrica, bem como (no futuro) de gás. 

A avaliação permitiu ao BIG Moçambique manter a sua aposta no mercado, onde já tem uma equipa de 25 colaboradores, dos quais apenas dois são expatriados: Joel Rodrigues e Sérgio Magalhães. Ambos são quadros do BIG e chegaram a Maputo em 2014 para montar a operação, mas só depois da instituição portuguesa ter deixado cair outras hipóteses de internacionalização: a aquisição de um banco comunitário (crédito à habitação e a empresas com ligação a Portugal) no estado de Nova Iorque; a criação de uma gestora de activos em Espanha; a abertura de uma corretora no Rio de Janeiro. 

Com a escolha a recair sobre Moçambique, a primeira "visita" ocorreu em 2013, já com a intenção de abertura de uma sucursal. E o início da actividade deu-se em Março deste ano, com o BIG Moçambique a tornar-se o 19º banco comercial a operar no país. Os números mais recentes indicam que em 2014 o sector lucrou 171 milhões de dólares, mais 28% do que no ano anterior.

À semelhança do que também acontece em Portugal, a sucursal africana do BIG propõe-se prestar serviços "de assessoria financeira, de apoio ao Estado nas privatizações, mas também de apoio ao sector público e privado na angariação de financiamento" como, por exemplo, através da "emissão de dívida, colocação de obrigações ou de papel comercial, áreas pouco exploradas em Moçambique", explica Joel Rodrigues. 

Noutra vertente, "o objectivo é contribuir para o desenvolvimento do mercado de capitais moçambicano, trazendo mais investidores e emitentes, e dando mais liquidez aos títulos existentes", avança, por seu turno, Sérgio Magalhães. Ou seja, acrescenta, o BIG pretende ajudar as empresas públicas e privadas a adaptarem-se a uma nova fase do ciclo económico, "de grande exposição à economia global, com a construção de grandes projectos." 

"Muitas empresas (públicas ou privadas) directamente expostas aos sectores das infra-estruturas e das energias tenderão a beneficiar directamente com os investimentos planeados, mas o crescimento económico terá impacto no resto do tecido empresarial", nota, por sua vez, Joel Rodrigues, abrindo-se assim oportunidades de negócio para a banca de investimento.

 "Houve investidores internacionais que, sabendo que o BIG se estava a instalar, nos contactaram, por sua iniciativa, para pedir que identificássemos alternativas de investimento em Moçambique em áreas e projectos específicos", evoca Sérgio Magalhães. "Para além dos institucionais que procuram outras vias para alocarem as suas poupanças, há os particulares mais sofisticados, com mais informação, e com capacidade de poupança e que querem diversificar risco". 

Quem são os clientes que aos depósitos a prazo na moeda local, o metical, remunerados a taxas de dois dígitos (uma prática em Moçambique) preferem produtos com menores níveis de rentabilidade? Joel Rodrigues respondeu: "Os que procuram a diversificação por não quererem concentrar os activos num único produto e estão, por isso, dispostos a abdicar de um pouco de rentabilidade para terem uma carteira mais segura e menos volátil."

Hoje muitas empresas, entre elas portuguesas, começam a enfrentar dificuldades sobretudo em resultado das restrições cambiais, situação que se acentuou depois de os financiadores internacionais da República moçambicana terem levantado obstáculos à sua acção, o que tende a ter impacto no desenvolvimento do país a curto prazo. Nada que preocupe muito Sérgio Magalhães: "Para nós este processo é de adaptação e de ajuste das próprias empresas a uma nova realidade, com novas regras de jogo, para que possam aproveitar os benefícios que os grandes projectos internacionais planeados vão trazer para a economia". E que estão a atrair para Maputo os grandes bancos internacionais. Magalhães concluiu: "São grandes investimentos que vão estender-se por 30 anos e a sua velocidade de implementação não diminuiu nem é posta em causa pelo actual momento que o país atravessa". 

Fundado em 1999, o BIG tem sede em Lisboa e conta entre os seus accionistas com António da Silva Rodrigues, do grupo Simoldes, com cerca de 12%, seguindo-se a gestora de participações Adger, com 11%, o presidente e fundador Carlos Rodrigues, com quase 10%, e a World Wide Capital (WWC), do general angolano Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, com posição semelhante. Em 2015 os resultados líquidos da instituição cifraram-se em 74,5 milhões de euros, menos 9,7% face aos 82,5 milhões de euros registados em 2014. 

A jornalista viajou a convite do BIG

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