A saudade existe

É a primeira vez que leio a palavra saudade num texto de língua inglesa sem itálicos ou definições.

No Sunday Times de 1 de Maio David Baddiel escreveu uma crónica com o título "Where have all the great men gone?" Aposto que o título não foi escrito por Baddiel. Nem tão-pouco terá escolhido as seis fotografias que a ilustram: de Dylan Thomas, Frank Sinatra, Bertold Brecht, David Bowie, Marlon Brando e Saul Bellow.

São todos homens. E só um deles morreu em 2016. O tema da crónica que obviamente inclui Victoria Wood e Zaha Hadid é a morte de pessoas talentosas até ao fim de Abril deste ano. David Baddiel diz que parece obra de um "serial killer on the loose with a huge grudge against talent".

Algum sub-editor (provavelmente do sexo masculino?) foi responsável pelas alterações. A primeira frase da entrada não poderia ser mais suspeita: "They were the masters of the cultural universe".

Até a série Vikings é menos misógina. O que me alegra (graças à Cesária Évora, à música popular brasileira, ao fado e à internet) é que a palavra saudade já é usada sem itálicos nem explicações.

A saudade é o pastel de nata das palavras inglesas. David Baddiel falou da montagem de quem morreu nos últimos 12 meses como um disparador da "delicious saudade".

É a primeira vez que leio a palavra saudade num texto de língua inglesa sem itálicos ou definições. Não sei se foi a Cesária Évora, a Marisa ou a Wikipedia. Ao acrescentar o adjectivo delicious Baddiel apanhou, de Almeida Garrett o "gosto amargo de infelizes,/ Delicioso pungir de acerbo espinho, (...)."

 

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