Último preso de Tiananmen será libertado este ano

Na sequência dos protestos de 1989, foram presas cerca de 1600 pessoas. Miao Deshun era o último de quem se sabia alguma coisa e vai sair da prisão em Outubro, diz uma organização de defesa dos direitos humanos.

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Um estudante enfrenta os tanques do Exército de Libertação do Povo a 5 de Junho de 1989 Reuters

A China deve libertar este ano o último dos presos conhecidos que participaram nos protestos na Praça Tiananmen em 1989, revelou esta segunda-feira a organização de defesa dos direitos humanos Dui Hua.

Miao Deshun, hoje com 51 anos, será libertado em Outubro, depois de a sua pena inicial – prisão perpétua – ter sido objecto de várias reduções. Não se sabe ao certo quantas pessoas foram presas depois da forte repressão feita pelas autoridades chinesas, na sequência dos protestos estudantis em Pequim, em Junho de 1989.

Depois de sete semanas de manifestações na principal praça da capital chinesa – símbolo do poder comunista, onde está localizado o Palácio do Povo e o Mausoléu do líder histórico e fundador da República Popular da China, Mao Tsétung –, tanques blindados abriram fogo sobre os manifestantes durante a noite de 3 para 4 de Junho.

Em causa estavam as exigências por vários movimentos estudantis de reformas políticas que permitissem mais liberdades e direitos democráticos.

As imagens do massacre, transmitidas por jornais e televisões de todo o mundo presentes em Pequim por ocasião de uma visita de Estado do líder soviético Mikhail Gorbachov, chocaram o mundo e puseram em causa o processo de normalização diplomática entre a China e os Estados Unidos.

Não foi dado qualquer balanço acerca do número de mortos, mas várias fontes ocidentais apontam para que milhares tenham morrido durante a operação do Exército.

Seguiu-se uma forte repressão e cerca de 1600 pessoas ficaram presas por terem participado ou apoiado as acções de protesto. Um deles foi Miao Deshun, na altura um operário fabril de 25 anos da região de Pequim, acusado de fogo posto, por ter atirado um cesto contra um tanque em chamas. No início de Agosto, dois meses depois do massacre de Tiananmen, foi condenado a prisão perpétua.

Hoje, Miao sofre de esquizofrenia e hepatite B e “não teve contacto com o mundo exterior durante muitos anos”, escreve a Dui Hua. Em 2003 foi transferido para a prisão de Yangqing, que possui uma ala para presos doentes e idosos e há mais de uma década que não recebe visitas de familiares, segundo um pedido do próprio, diz a organização com sede em São Francisco (EUA).

Por altura do 25.º aniversário dos protestos de Tiananmen, a BBC entrevistou alguns antigos prisioneiros, que descreveram Miao como uma pessoa “calma” e “frequentemente muito deprimida”. Em 2014, já era descrito como o último preso relacionado com os protestos de Tiananmen. De acordo com os ex-detidos, Miao foi mantido na prisão por se recusar a assinar uma declaração em como tinha participado nas manifestações e por não participar nos trabalhos forçados de “reeducação”.

Os acontecimentos em torno da repressão dos protestos de Tiananmen ainda exercem alguma influência no seio dos círculos dissidentes na China. Em 2014, nas vésperas do 25.º aniversário, as autoridades chinesas prenderam dezenas de activistas e intelectuais conotados com a oposição ao regime comunista, numa tentativa de antecipar qualquer tipo de acção que visasse assinalar a data. O motor de busca Google também foi bloqueado nessa altura. 

 

 

 

 

 

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